Como é que Jesus nos amou? “Nisto conhecemos a caridade: Jesus deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos” (1 Jo 3,16). Amar até dar a vida pelo irmão. Esta é, diz-nos Jesus, a maior prova do amor. Penso que só o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito nos pode levar a fazer da nossa vida uma oferta de amor a Deus, em favor dos irmãos. Esta oferta supõe um total esquecimento de nós mesmos. Vivemos, “não já para nós próprios, mas para Ele, que por nós morreu e ressuscitou” (Anáfora IV).

O Amor de Jesus é gratuito. “É pela graça que fostes salvos, mediante a fé. E isto não é a vós que se deve; é dom de Deus. Não vem das obras para ninguém se poder gloriar” (Ef 2,8-9; 2 Tim 1,9-10). A gratuidade do amor está nisto: primeiro, em ter a iniciativa de amar: Deus ama-nos desde toda a eternidade: antes de eu existir, antes de eu o poder amar. E porque me ama, dá a vida na cruz. Deus ama-nos antes de qualquer mérito nosso. Em seu amor, faz-nos ser pessoas novas: seus filhos muito queridos (Rm 8,14-17.28-30). Se queremos ser sinceros, temos de reconhecer que sentimos dificuldade em tomar a iniciativa de amar. Mais ainda se não somos correspondidos. Parece-nos que ficamos a perder, que damos parte de fracos, se damos o primeiro passo. E ficamos à espera uns dos outros; e queixamo-nos; e protestamos… Dar o primeiro passo, é sinal de fortaleza no amor. Segundo, em amar desinteressadamente: mesmo que correspondamos ao amor de Deus, que lhe podemos dar que d’Ele não tenhamos já recebido – perguntava o apóstolo S. Paulo? (1 Cor 4,7). E, no entanto, Ele ama-nos, simplesmente por isso, por amar-nos e fazer-nos participar da plenitude da sua alegria.

Até gostamos de amar, de fazer o bem. Mas custa-nos amar alguém que se mostra indiferente ou ingrato… Temos, por vezes, um secreto receio de que o outro ofusque o nosso brilho. Custa-nos amar sem ver ganhos imediatos. Custa-nos dar, sem esperar retribuição. Nisto de amar, Jesus desafia-nos a investir desinteressadamente e a fundo perdido.

O Amor de Jesus é humilde e compassivo. “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus, mas despojou-se a si mesmo tomando a condição de servo” (Fl 2,5-7). A humildade é a marca do amor verdadeiro. Quem ama não se impõe ao ser amado. Assume a atitude de servo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir”. Quem ama, quando ajuda, não humilha, antes, faz-se pequeno e aproxima-se do irmão. 

A compaixão é a marca do amor puro. Olha sem julgar nem condenar o outro. Não se fixa no negativo da vida do irmão. Sofre ao vê-lo sofrer. É por isso capaz de libertar e salvar, sem deixar de exortar à mudança de vida. Eis o olhar de Jesus sobre a mulher adúltera do Evangelho, que todos queriam condenar.

O Amor de Jesus é incondicional. Não nos custa amar alguém que a nossos olhos merece ser amado. Mas temos preconceitos e pomos facilmente condições para amar. Jesus amou sem preconceitos e condições. Amou, sem preconceitos, a Samaritana, a mulher adúltera, Mateus, o publicano, Madalena, a prostituta. Amou, sem condições, Judas, que o traiu, Pedro, que o negou, e os outros apóstolos, que o abandonaram. Jesus amou sem preconceitos e condições. E amou até ao fim, até ao dom da própria vida. Jesus amou sempre e sem medida. E nunca desistiu de amar ninguém. É-nos difícil amar sempre, em todas as circunstâncias e a toda a gente. Quando alguém é difícil, tendemos a desistir e a dizer: não há nada a fazer. O amor incondicional de Jesus levou-o ao extremo de perdoar e pedir desculpa para aqueles que o matavam: “Perdoa-lhes, Ó Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

O Amor de Jesus é universal (Mt 5,43-49). Amar sem fazer acepção de pessoas, sem excluir ninguém. É assim que Jesus ama e nos propõe amar. Jesus diz-nos que havemos de ser perfeitos como o Pai do Céu. Não é a perfeição de quem pretende fazer tudo bem feito, e que não se perdoa e não aceita os seus limites; e, em consequência, tem dificuldade em aceitar os limites dos outros e em oferecer-lhes o perdão. Trata-se de ser perfeitos no amor, por graça de Deus, movidos pelo amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

O amor de Jesus é singular: “Jesus amou-me e entregou-se a si mesmo por mim” (Gl 2,20). Amar com um amor universal é amar ao jeito de Jesus. É não fazer acepção de pessoas, não excluir ninguém. E, no entanto, vemos o olhar de Jesus, particularmente, atento aos pequenos, aos ‘esquecidos’ de todos. Era um dia de festa. Uma multidão de gente fervilhava nas ruas de Jerusalém. Mas Jesus, sempre atento, descobre, no meio de todos, o “paralítico” esquecido (Jo 5,1-9). O olhar de Jesus é um olhar contemplativo, é um olhar iluminado pelo amor do Pai. 

O amor de Jesus é singular. O seu olhar fixa-se em cada ser humano, como único. Ele ama a todos sem excepção, mas o seu amor é pessoal. E porque tem um olhar único sobre cada um de nós, Ele vai ao encontro dos mais humildes e dos que estão caídos na berma da estrada da vida. Façamo-lo nós também!

P. Vasco Nuno, ocd