Com este texto pretendo continuar a dar conhecimento do estado dos trabalhos e conclusões retirados para o Sínodo dos Bispos que a Igreja realizará no próximo mês de Outubro, dando assim o meu contributo para o “Mensageiro”.

A reunião pré-sinodal, realizada em Roma, de 19 a 24 de Março, intitulada “Caminhamos juntos”, presidida pelo próprio Papa, na esperança de escutar os jovens com  vista ao Sínodo, deu origem a um pequeno documento, publicado no site do Vaticano, que sintetiza as reflexões feitas pelos jovens das várias partes do mundo acerca da Igreja e da sociedade. Este documento servirá para que “a Igreja e outras instituições possam aprender com o resultado da reunião e escutar a voz dos jovens”, que têm na Igreja um papel a desempenhar. Uma Igreja que não tem medo “de se mostrar vulnerável (…) sincera em admitir os seus erros” e, assim, mais aberta a acolher a diversidade.

Os jovens começam por salientar a necessidade que sentem de integrar comunidades capazes de os valorizar, seja na paróquia, seja no seu espaço escolar mas principalmente na família. O documento relembra que “os modelos de família tradicional estão em declínio em vários lugares e isso traz sofrimento também para os jovens”. Assim, a Igreja é chamada a promover e a empenhar-se em “sustentar melhor as famílias e a sua formação”, tendo perfeita consciência de que a formação da personalidade de um jovem, nos seus vários níveis, começa e depende essencialmente da família.

Na reunião, o Papa afirmou que os jovens precisam de sentir a Igreja e a suas diversas comunidades como algo seu e não somente algo em que participam e, para isso, “precisamos de encontrar modelos atraentes, coerentes e autênticos” para as nossas comunidades cristãs.

A Igreja precisa de caminhar com os jovens que, com muito empenho e de muitas maneiras, procuram “dar sentido a um mundo muito complicado e diversificado”, um mundo multicultural, uma cultura do descarte e do prazer, um mundo globalizado e com excesso de informação, e um mundo cada vez mais secularizado, no qual os jovens não conseguem encontrar um sentido para a fé, nem sequer se atrevem a afirmar-se como cristãos.

A juventude do nosso tempo procura “segurança, estabilidade e plenitude”, procura comunidades e uma Igreja coerente, que sintam como sua. Os jovens procuram contribuir e fazer parte de um mundo melhor, de paz, de fraternidade e no qual a fé e a Igreja têm lugar.

É também realçado um aspecto importante que se refere à “grande discrepância entre os desejos dos jovens e a sua capacidade de tomar decisões a longo prazo”. Assunto que merece ser bem reflectido!

Quanto às novas tecnologias e redes sociais, os jovens afirmam que “se, por um lado, os progressos tecnológicos melhoraram sensivelmente a nossa vida, é igualmente necessário usá-la de maneira prudente”, uma vez que a tecnologia tanto pode melhor as relações interpessoais como tomar o lugar das relações humanas, o que seria desastroso! Verificamos que a tecnologia é parte integrante da identidade dos nossos jovens e não podemos negá-lo nem dizer que é intrinsecamente mau mas devemos constatar que o consumo excessivo contribui para o “isolamento, a preguiça e o tédio” e até a perda de identidade dos nossos jovens. Também aí a Igreja tem um papel importante, podendo caminhar com os jovens para um uso benéfico da tecnologia e promover a importância das relações humanas e do diálogo.

O documento fala-nos também da dificuldade que alguns jovens sentem em perceber alguns ensinamentos da Igreja, sobretudo em relação a temas mais sensíveis e fraturantes da sociedade como o aborto, o matrimónio, a contracepção, etc… Desta forma, as novas gerações pedem uma maior e melhor apresentação e explicitação destes temas, podendo assim chegar à essência e compreenderem a posição da Igreja face a estes mesmos assuntos. Falamos de uma Igreja com um “olhar aberto às diversas ideias e experiências”

Por fim, é importante referir que os jovens necessitam de experiências fortes de Deus capazes de os transformar e de os por a caminhar em direcção a Jesus; por isso, é necessário um trabalho que lhes mostre que esse encontro com Jesus é possível e necessário e que só nessa experiência de encontro poderão encontrar o sentido último da sua vida. Assim, a Igreja procura um acompanhamento mais próximo do mundo juvenil bem como uma pastoral que promova o encontro com Jesus e com os outros, sem esquecer que para tudo isto é necessário um trabalho e uma disposição não só da parte da Igreja mas também dos jovens, pois o objectivo não é que uns “empurrem” os outros mas que a Igreja e os jovens caminhem lado a lado.

Rezemos pelo fruto deste Sínodo e pela nossa juventude.

Queridos jovens, a Igreja também sois vós! Fixai os olhos em Cristo e caminhai com a Sua Igreja.

 

João Pedro, noviço ocd