O Eduardo e a Filomena estão casados há 16 anos, vivem em Coimbra, na paróquia de S. Martinho, e vieram passar um fim-de-semana ao Santuário do Menino Jesus de Praga. Tal como o Menino Jesus, também o Reitor se deixou prender pela simplicidade, alegria e fé que resplandeciam nos seus olhos. Ali havia uma história de fé e de dor para contar. Vencendo-se na sua timidez, o Reitor pediu-lhes “uma conversa para o Mensageiro”. Dessa interessante conversa saíram-me as seguintes notas bíblicas:
1ª. “Senhor(a), a minha filha está a morrer” (Mc 5, 23), talvez tenha rezado em Fátima a mãe da Filomena, quando ali foi chorar a sua dor de mãe aos pés d’Aquela que, no Calvário, ficou com o seu filho Jesus morto nos braços. Aos 18 anos, a Filomena encontrava-se no IPO (Porto) a lutar contra um linfoma. Estava a passar por uma fase muito crítica e de grande risco. A mãe, em Fátima, comprou uma imagem pequenina do Menino Jesus de Praga. Mas nem sabe porquê nem quem era aquele Menino. Pediu a um sacerdote para a benzer e, no dia mundial do Doente, foi visitar a filha ao IPO e levou-lhe a imagem, pedindo à enfermeira que a esterilizasse e a deixasse junto da sua filha.
2ª. “Basta, Senhor, tira-me a vida” (1Rs 19, 4). Após a cirurgia à medula ficavam oito dias para continuar a viver ou morrer. Entretanto chegou o desespero absoluto, numa noite muito difícil e escura. Eis as palavras da Filomena: “As dores eram insuportáveis e os médicos não me podiam dar mais nada. No meio do sofrimento e da dor, pus o meu olhar no olhar doce do Deus Menino e fiz-lhe a minha entrega: Leva-me e faz de mim o que quiseres, porque eu já não aguento mais!”.
3ª. “A menina não está morta: dorme” (Mt 9, 23). Depois de fazer a sua entrega ao Menino e de pedir a Deus que a levasse, a Filomena adormeceu. No dia seguinte, não tinha dores e começou a falar, sem saber bem do que se tratava. A medula começou a funcionar, ela começou a comer e “safou-se da morte”. Foi, no dizer dos médicos, uma recuperação fora do normal. Talvez lhe tivesse acontecido o mesmo que aconteceu à filha de Jairo: “Retirada a multidão, Jesus entrou, tomou a mão da menina e ela ergueu-se” (Mt 9, 25). Apesar de ter mantido sempre a esperança de que não seria o fim, a Filomena confessa: “Deus trouxe-me para a vida. Para mim, essa noite foi a noite do milagre”. São João da Cruz, na sua poesia mística, chamar-lhe-ia “a noite ditosa”.
4ª. O Menino Jesus peregrino. Naquela “noite ditosa” nasceu na Filomena renascida a devoção ao Menino Jesus de Praga. O acontecimento “espalhou-se logo por toda aquela terra” (Mt 9, 26) e, quando alguém está doente, ela empresta a imagem do seu Menino Jesus com a condição de que lha devolvam. A Filomena chama-lhe agora “O Menino Jesus peregrino”, porque, tal como os apóstolos “foram de aldeia em aldeia, anunciando a Boa Nova” (Lc 9, 6), ele anda de doente em doente para dar conforto e esperança ou até, quem sabe, fazer mais um milagre. Por alguma razão é conhecido e invocado também como o Milagroso Menino Jesus de Praga! E isto já vem de longe e há muito tempo. Contudo, a este respeito de emprestar a imagem, a Filomena teima em afirmar: “O importante não é a imagem, mas a fé”.
Depois de tudo isto, ficou na Filomena um grande desejo de ir a Praga, à igreja de Nossa Senhora da Vitória, visitar o Menino Jesus. Entretanto, o Eduardo, que é motorista de camiões, veio um dia trazer uns carros ao Marco de Canaveses. Ao passar em frente ao Santuário do Menino Jesus, em Avessadas, reparou na imagem de pedra exterior que preside, lá no alto, à entrada do Santuário. Parou, entrou, rezou, saiu e seguiu viagem com a descoberta de que, em Portugal, também havia um Santuário dedicado ao Menino Jesus de Praga. Quando chegou a casa, calou-se muito bem calado, procurou na internet informações sobre o Santuário (horários de missas, domingo de bênçãos…) e disse à Filomena: “Do dia 24 ao dia 27 de Agosto, não te comprometas com nada nem com ninguém, pois estás por minha conta”. E, de facto, no dia 24, ao chegar ao Santuário do Menino Jesus de Praga, em Avessadas, a Filomena ficou admirada, sentindo-se amada, com a surpresa que o marido lhe fez. Aqui permaneceram estes dias, tendo a oportunidade de conhecer e conviver com outro casal devoto do Menino Jesus – a Rosinha e o Adelino de Fânzeres –, rezar com a comunidade carmelita, participar na Eucaristia das bênçãos, na oração da coroinha e na procissão da tarde.
Entretanto partiram para Coimbra, mas o seu testemunho ficou aqui.
Além de tudo isto, e depois deles terem partido, veio-me ao pensamento aquela promessa que tantas vezes tenho ouvido dos noivos no dia do seu matrimónio:
Eu, recebo-te por minha esposa
a ti, e prometo ser-te fiel,
amar-te e respeitar-te,
na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença,
todos os dias da nossa vida.
Infelizmente tem havido casos em que o amor e o respeito parecem terem acabado quando surge uma doença grave. Contudo, também é verdade que o amor no matrimónio se torna mais forte e heróico quando a doença rouba a saúde, como foi o caso.
Nessa mesma hora, encontrando-me na igreja diante do Menino Jesus, só fui capaz de agradecer a vida e a história deste casal e dizer:
Divino Menino Jesus, abençoai-os.
Agostinho Leal, ocd