Narrei no último Mensageiro o advento da imagem Divino Reizinho à Sua cidade de Praga. Sucederam-se ali, entretanto, muitos sucessos de graças e bênçãos que ainda haveremos de contar aqui. Por ora, urge-nos conhecer como chegou Ele a Portugal. Sim, que se agora ledes este texto é porque em tempos passados vos aproximastes da Sua amável imagem, e até talvez já O tereis visitado no Seu Santuário de Avessadas, para devotamente Lhe rezardes e a Ele vos consagrardes. Ou até, quem sabe, já O heis visitado em Praga para O venerar no Seu altar na Igreja de Nossa Senhora da Vitória, situ no lado da Epístola – onde, em 26 de Setembro de 2009 O venerou o Papa Bento XVI, que ali Lhe rezou e Lhe confiou a infância de todos as nossas crianças.
Acolhei, portanto, estas palavras com sabor a memória e devoção, porque o Menino Jesus é Rei de todos os lugares, de todos os corações, e também dos nossos – do de todas e todos que a Ele se consagram e confiam.
Estávamos, pois, em 1628, quando a princesa Polyxena de Lobkowitz, aproximando-se do pobre Convento do Carmo praguense, graciosamente, entregou ao seu Prior, Frei João da Ascensão, a imagem do Divino Reizinho que herdara de sua mãe.
A chegada a Portugal da imagem do Divino Infante tem, porém, uma curiosidade assaz especial: é que ela chegou primeiro a Portugal que a Espanha! Certamente vos lembrareis que a veneranda imagem fora moldada em cera, num mosteiro do sul de Espanha (como bem testemunham os seus traços mouriscos); pertenceu, depois, a nossa Mãe Santa Teresa de Jesus, que acabou oferecendo-a, como prenda de esponsais, à sua nobre amiga Dª Maria Manríquez de Lara, cujo nome ainda hoje é grande em Espanha e outro tanto na história do Reino da Boémia. E também vos lembrareis que Dª Maria Manríquez de Lara a legou à sua filha mais estimada, a princesa Polyxena de Lobkowitz, quem, por último, a ofereceu ao Convento do Carmo de Praga, depondo-a nas mãos do seu Prior. Corria o ano de 1628.
Com a vossa licença muito haverei de contar-vos sobre os grandes sucessos do Menino Jesus de Praga, ao longo e ao largo daquele reino e para lá das suas fronteiras. Hoje por hoje, porém, apenas vos narrarei a Sua majestosa chegada a Portugal: a coisa passou-se no ano de 1749, no dia 17 de Julho, pouco mais de vinte anos depois de ser entregue como um voto ao convento do Carmo de Praga. Àquele tempo, existia em Lisboa um convento de Padres Carmelitas Descalços comissionado para preparar os missionários Carmelitas austríacos para as missões ad gentes de língua portuguesa; a este convento se confiava também o atendimento da colónia de língua germânica em Lisboa. Por essa razão, o grande apóstolo do Menino Jesus, Pe. Ildefonso da Apresentação achou por bem enviar a este nosso convento do Carmo uma réplica da imagem do Divino Reizinho Praguense da capital do Reino de Portugal! Veio, cremos crer, de barco. Dir-me-ão que é uma hipótese altamente improvável. Talvez seja, mas imagino a discreta embaixada encarregue de trazer a imagem, abandonando Praga em direcção à soberana cidade de Hamburgo (actualmente a viagem faz-se em dez horas!) e embarcando no seu porto de águas profundas desceu o Elba, entrou no Mar do Norte, e depois de navegar o Atlântico aportou a nave em Lisboa.
Quero imaginar que foi assim que o Divino Reizinho chegou a Lisboa, regressando assim à Península Ibérica donde saíra dois séculos antes!
A receber a veneranda imagem saíram os Descalços austríacos e as demais Comunidades de Carmelitas Descalços da capital, o povo de Lisboa, o clero, os nobres e sua Alteza Real, D. João V, o Magnânimo, o Rei-Sol português, e a rainha Dª Maria Ana de Áustria, que tinha os Carmelitas austríacos de Lisboa por seus conselheiros e confessores.
A entrada em Lisboa do poderoso Reizinho foi, pois, debaixo de um solene repique de sinos de todas as igrejas e de um alvoroço de pombas e capas brancas! Enfim, uma apoteose! Tinha a recebê-lO nada menos que todo o povo e o povo todo e um Rei-sol, cujo brilho em nada se comparava com a augusta e divina aura do Rei dos reis! Eis que o Rei-sol português e seus vassalos saíram a receber em seu reino o Rei dos reis; o Rei de Portugal e dos Algarves de Aquém e d’Além mar acolhia Quem sempre possuíra o senhorio do céu e da terra! A festa foi, portanto, rija, fera e com os devidos e ajustados galardões, que sempre há festa quando o Divino Reizinho toma posse do que é Seu! E isto é tanto verdade que em pouco tempo todas as igrejas de Lisboa dedicaram altares ao Divino Menino Jesus de Praga! A devoção era tal que daqui parecia original! Igrejas como as dos Carmelitas e das Carmelitas, de São Domingos, Encarnação, Santa Isabel, São Paulo, Visitação, e tantas outras dedicaram-lhe altares, Missas, devoções e procissões. Desde aquela hora bendita, com seu Rei e Rainha à frente, Portugal soube confiar-se ao coraçãozinho do Menino Jesus de Praga.
Portugal e a sua devoção ao Divino Menino Jesus de Praga é uma tradição que vem de muito longe! E com provas provadas!
Frei João Costa, ocd