Chegou o dia tão esperado por tantos!!! É a XXXVI (a I já foi em 1985) Festa-Peregrinação Nacional ao Santuário do Menino Jesus de Praga, em Avessadas. Mas que pena o «raio desta pandemia» continua a teimar não nos deixar ir até lá. Mas nós havemos de ir, não só de Fátima (com a D. Cidália), de Nelas (com a D. Fatinha), de Vidago, de Rio de Moinhos, de Cabeça Santa…, dos nossos lugares habituais como vamos cada domingo (Alpendurada, Marco, Sande, Constance, Tuías, Avessadas…)
Era gente muito feliz, via-se, especialmente, nos olhos, claro, e por verem o Menino e sempre se vê também alguém conhecido de outros tempos, embora, depois, só possamos sorrir-lhe e levantar a mão, ou o braço! Adultos, casais, jovens e crianças: seriam mais de 300 pessoas; mas com as devidas precauções: um grande rolo-expositor com informações e indicações, desinfecção das mãos na entrada no recinto, distanciamento recomendado…
Estávamos todos ao ar livre, como nos outros anos, à sombra das árvores que já estão maiores agora. É verdade: não havia música no ar nem espalhada pela mata, não havia montagem de som a não ser no local da celebração para esse momento solene. Soleníssimo, porque a Eucaristia foi presidida pelo nosso Provincial, Pe. Pedro Lourenço Ferreira.
Às 11,30h. aparece o andor pequenino do Menino Jesus de Praga todo enfeitado com as flores de Nelas e portado a ombros por jovens vindos também daquela terra de tantos devotos. O grupo coral, como sempre, começa os seus belos cânticos que acompanharão os vários momentos da celebração: tudo muito calmo, palavras breves e claras, boas-vindas, nada de movimentos desnecessários através do espaço celebrativo…
Belíssima e profundíssima homilia sobre a família, a nova família de Jesus: «Aquele que faz a vontade de Meu Pai é meu irmão, minha irmã e minha mãe»!
Ofertório muito simples, só os dons que serão colocados sobre o altar todo engalanado de flores.
Comunhão com as devidas precauções.
No final, uma bênção especial para os peregrinos que deveriam regressar: todos em segurança e com o Menino Jesus no coração. E um convite porque, às 15,30 h. rezaríamos, no mesmo local, a Coroinha do Menino e o regresso, com o andor, para o Santuário.
E assim foi: muita alegria, satisfação, e os votos do Padre Provincial para que «em 2022 regressássemos ao normal, abençoados por Jesus».
Homilia
Queridos devotos do Divino Menino Jesus de Praga:
Quem somos nós que o Senhor aqui reuniu neste dia? Somos os que, habitualmente, veem rezar a este Santuário aos domingos, mas somos também os que viemos de mais longe ou de mais perto, para celebrar a Festa do Menino Jesus de Praga com as limitações impostas pela pandemia.
Acabamos de escutar a Palavra de Jesus, que podemos resumir na questão da família de Jesus. Quem é a família de Jesus? A família de Jesus são aqueles que pelo sangue e pelo Espírito pertencem a Jesus. O homem Jesus, que hoje veneramos na sua santa infância, é o Filho de Deus, Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo, tanto Deus como homem, nascido da Virgem Maria para partilhar connosco aquilo para que Deus nos criou: sermos filhos de Deus!
A primeira leitura recordou-nos os mistérios da nossa vida sobre a terra: a presença de Deus que procura o homem ferido pelo uso indevido da sua liberdade. O pecado da desobediência levou-nos a reconhecer que eramos diferentes de Deus e diferentes uns dos outros. Desfigurada em nós a imagem de Deus e conscientes da nossa nudez, procuramos vestes que ocultem a verdadeira beleza aos olhos de Deus. Uma criança nada tem a esconder à sua mãe, os esposos nada escondem entre si e assim também os doentes nada devem esconder ao médico. Deus que nos criou, nunca nos abandonou, mas sempre nos procura: «Onde estás?». Jesus é o rosto e a voz de Deus à procura do homem. Procura-o para o trazer de volta à casa paterna. A primeira morada do homem é o seio da mãe e a sua última morada é o seio do pai celeste.
O Evangelho deste domingo resume toda esta mensagem da família humana de Jesus. Quando chegou a sua hora, Jesus deixou Nazaré e foi para Cafarnaum; chamou a Si alguns discípulos que associou à sua missão na obra do retorno dos homens a Deus. Neste contexto, Jesus chegou a casa com os discípulos e nem sequer podiam comer, porque as pessoas acorriam em grande número. Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter, pois diziam: «Está fora de si».
O drama da procura de Jesus por parte da multidão e por parte da família, permite a Jesus uma preciosa catequese sobre a sua família divina e humana, a família de sangue materno e a família do Espírito do Pai. O que separa e o que une estas famílias? Os costumes, as tradições e as nossas opiniões são o enredo deste Evangelho. Os chefes religiosos, os escribas, tinham descido de Jerusalém para ouvirem aquele novo pregador, que acompanhava a pregação com milagres que atestavam o que dizia. Os escribas, porém, avançaram logo com uma explicação para os milagres: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios». Afinal, eles constatavam que Jesus era diferente dos outros judeus: não jejuava como eles, não evitava pessoas pouco recomendáveis, nem vivia segundo as tradições judaicas. Os procedimentos de Jesus eram já a obra da reconciliação da família humana com a família de Deus. Jesus insere aqui uma nova verdade: confundir o Espírito Santo, que une o Pai ao Filho, com o espírito diabólico, que divide os homens entre si e com Deus, é um pecado sem perdão.
Deus criou o homem à Sua imagem: dizer que um homem é o diabo é um pecado contra o Espírito Santo, porque todo o homem – mesmo o maior pecador – é imagem e semelhança de Deus. Por isso, Jesus nunca fez aceção de pessoas! Para Ele todo o homem e toda a mulher são filhos de Deus, pertencem à Sua família e a roupa suja limpa-se em casa e com o Seu próprio sangue. Deste modo, Jesus uniu a família divina à família humana para que sejam uma só.
Finalmente, evangelho ilustra esta doutrina com a cena da presença dos seus familiares: «A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a minha palavra»! Os familiares de Jesus não entendiam a Sua missão, mas estavam a caminho, procurando Jesus. A Mãe de Jesus procurou sempre essa verdade e só a descobriu no Calvário: «Mulher, eis aí o teu filho». Nada pode separar uma mãe do seu filho, nem o parto nem a morte: esta é uma lei divina proclamada na Cruz e que a Virgem Maria aprendeu na hora de Jesus, quando Ele a recomendou ao discípulo amado: «Eis a tua Mãe». A família de Jesus não termina no Calvário, mas a morte de Jesus faz nascer uma família que é a de Deus e a dos homens de todos os tempos.
Hoje esta família de Jesus somos nós, que invocamos o Nome de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sempre Divino Menino. Invocámo-l’O sobre as nossas famílias e a nossa sociedade. De modo particular, pedimos a Jesus que nos livre desta pandemia e no próximo ano já possamos vir aqui fazer a sua festa sem constrangimentos.
Divino Menino Jesus,
abençoai-nos.