Um bem-haja a todos. Foi-nos proposto apresentar um testemunho sobre a nossa caminhada vocacional. Começo por dizer que me chamo David, tenho 33 anos, sou natural da Gafanha da Nazaré, que pertence ao distrito de Aveiro. Fui educado na fé Católica, pelos meus avós, que tiveram sempre a preocupação de me levar para a catequese. Fiz a catequese até aos 13 anos. Depois, decidi abandonar, porque achei, que não me preenchia.
No entanto, já desde pequeno tinha sinais de que Jesus me amava e chamava, só que a minha leviandade e cegueira fez-me afastar d´Ele por algum tempo. Quis deixar a casa de meu Pai e ir esbanjar tudo a que tinha direito, em coisas supérfluas (Cf. Lc 15, 13-14). Andei por outras paragens que não me preenchiam completamente. Só mais tarde, vim a descobrir que aquilo que me satisfazia verdadeiramente habitava dentro de mim. Revejo-me nesta passagem de Santo Agostinho: «Durante os anos de minha juventude, pus o meu coração em coisas exteriores que só me faziam afastar cada vez mais d’Aquele a Quem o meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora!» (Confissões 10).
Quando tomei consciência de que a vida que levava não tinha sentido, comecei a ter inquietações e surgiram questões dentro de mim, sobre o sentido da vida, sobre a verdade de mim mesmo: O que somos? Quem sou eu? O que faço aqui? Donde venho e para onde vou? Tudo isto começou por volta dos 25 anos. Até aqui, trabalhava e tinha a minha vida normal. O que é certo, é que eu não me sentia bem, precisava de procurar respostas às minhas inquietações, às minhas dúvidas. E isso fez-me procurar e ir à busca, assim como Jesus disse: «Procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á» (Mt 7 7).
Com estes traços do meu passado juvenil, posso dizer com toda a sinceridade que a descoberta da minha vocação e entrada na Ordem dos Carmelitas Descalços é um autêntico “milagre”. A minha conversão tardia foi conquistada pelo grande amor que Deus teve e tem para comigo, levando-me a saborear a Sua grande misericórdia. Este «toque delicado de Deus na minha alma» (CE 1, 17) despertou-me para a Vida Consagrada. Ainda posso acrescentar que a quem muito se perdoa muito se ama (Cf. Lc 7, 40-43) e então só poderia deixar tudo por Jesus, porque me perdoou muito.
Quando comecei a ter vontade de fazer uma experiência numa comunidade Religiosa, ainda trabalhava. Então, decidi dizer à minha mãe que queria ser frade. No primeiro impacto não houve muita recetividade da parte dela, ficou em parte surpreendida por tal convicção minha, começou logo com aquelas questões maternas: então vais deixar o trabalho? Para onde vais tens comer? Tens roupas? Como vai ser isso? Depois da vida que tive, a minha mãe ficou surpreendida com a minha decisão. Contudo, nunca se opôs, ficou sempre a pensar que “aquilo passa”. Mas, o que é certo é que eu continuei com as minhas inquietações, e, com o tempo a passar, mais aumentava o desejo de me entregar a Jesus de todo o coração. Quando o Senhor chama, nada mais podemos fazer do que dizer sim, assim como Maria fez ao Anjo.
Na fase do discernimento ainda fiz experiências noutras Ordens Religiosas. Contudo, Deus guiou-me até à família carmelita, abrindo-me as portas do Convento de Nossa Senhora do Carmo, em Aveiro. O contacto com a comunidade dos frades levou-me então a fazer uma primeira experiência vocacional nesta comunidade. Comecei a falar com o sacerdote da comunidade que me apresentou ao Provincial. Este santo frade ajudou-me a encontrar o melhor caminho que respondia às minhas inquietações profundas e convidou-me a participar no encontro vocacional chamado “Rumos”. Os encontros do “Rumos” vieram trazer as respostas a tudo quanto procurava na Vida Consagrada. A minha vontade de ser religioso clarificou-se com os encontros que fomos realizando.
Aos trinta e um anos fui para a minha primeira comunidade carmelita, no Porto, onde estive durante um ano como postulante enquanto frequentava o primeiro ano de estudos académicos. Quando terminou, comecei com mais três jovens irmãos carmelitas uma nova etapa, o noviciado, na comunidade carmelita de Fátima. Hoje, encontro-me cheio de vontade de continuar a servir o Senhor, na comunidade do Porto. Estou a terminar os meus estudos universitários. A minha entrega tem sido gradual e em todo o meu caminho só tenho um ideal que não quero deixar: ser cada vez mais de Jesus e de Maria, para que, unindo-me plenamente me torne um frade, e se Deus quiser, um Padre-santo. Peço a Deus uma bênção para todos vós, e a Maria, a quem invocamos como Senhora do Carmo, suplico que vos cubra com o seu manto maternal! Obrigado.
Frei David Esteves