A celebração da Eucaristia tem uma unidade, na qual, para a compreendermos melhor, podemos distinguir diferentes momentos. Deste modo, temos dois grandes momentos que são o centro da Eucaristia: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Estes dois momentos estão precedidos por uma série de ritos preparatórios e terminam com uns ritos conclusivos. Em todos os momentos, com os diferentes sinais que constituem a liturgia da celebração da Eucaristia, tocamos tanto o Mistério da Divindade de Deus como o mistério da nossa própria humanidade. Por isso é necessário conhecer e perceber estes sinais para viver de forma plena a Eucaristia em toda a sua beleza.
No Dia do Senhor, no Domingo, o povo por Ele convocado à Eucaristia reúne-se na igreja a fim de celebrar o Mistério da Salvação. Estando, então, reunido o povo, a celebração começa com uns ritos introdutórios: entrada do celebrante ou celebrantes, a saudação, o acto penitencial, o Kýrie (Senhor, tende piedade de nós), o Glória e a oração colecta (oração que reúne e eleva aos céus todas as intenções de oração de toda a assembleia reunida na celebração e de todos os povos). Estes ritos iniciais têm a função de ajudar a assembleia celebrante a deixar de lado tudo o que não é importante e ajuda-a a entrar no Mistério que vai celebrar, preparando-a “para ouvirem devidamente a Palavra de Deus e celebrarem dignamente a Eucaristia” (Instrução Geral do Missal Romano, nº 46).
Todos os gestos que realizámos durante a Eucaristia podem parecer banais e fora de moda, mas todos eles encerram um profundo significado, pois estamos a exprimir por gestos que a Eucaristia é um encontro de amor com Cristo Jesus.
A Eucaristia tem como centro o altar, ou seja, o próprio Cristo que é altar, vítima e sacerdote do sacrifício com que oferece a salvação a todos os homens. Por isso nos reunimos à volta dele. Assim, o altar pelo seu significado torna-se o centro da comunidade reunida.
Reunida a assembleia, a celebração começa com a procissão de entrada em direcção ao altar. Enquanto entra o celebrante com os restantes ministros que o ajudarão no decorrer da celebração, canta-se um cântico de entrada. Este cântico tem a função de fazer uma espécie de corte com tudo o que se passou antes da Eucaristia e de inserir toda a assembleia no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A procissão continua com a saudação do altar: uma inclinação, em sinal de reverência. O sacerdote, além da inclinação ao altar, beija-o. Para terminar este rito inicial, o presidente da celebração incensa o altar.
Terminada a entrada processional, o celebrante faz e convoca todos a fazerem o sinal da cruz, enquanto se diz: «em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo». Fazemo-lo porque nos reunimos em nome das três pessoas divinas da Santíssima Trindade, e todos os actos que realizemos dali em diante realizamo-los em Seu nome. Todo o acontecimento da Eucaristia, por dizê-lo de alguma forma, irá realizar-se então no espaço da Santíssima Trindade, o espaço da comunhão e do amor.
Estando definido em nome de quem nos reunimos, o sacerdote saúda a assembleia dizendo: «A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco»; e a assembleia responde: «Bendito seja Deus, que nos reuniu no amor de Cristo». Com esta saudação, sacerdote e assembleia manifestam a presença de Cristo naquela celebração. Este é também o primeiro momento de um diálogo que se irá manter ao longo de toda a celebração entre assembleia e sacerdote. Este diálogo tem a função de demonstrar que sacerdote e assembleia se encontram animados por um mesmo Espírito e uma mesma finalidade. Assim se faz patente o mistério da Igreja reunida: há uma mesma fé e um desejo mútuo de encontro amoroso com Cristo e de viver em união com toda a Igreja e com toda a humanidade.
Porque nos sabemos na presença do mais Santo entre os santos, a celebração continua com um momento em que, humildemente, nos reconhecemos como pecadores e pedimos perdão pelos nossos pecados. A este momento chamamos acto penitencial. Neste momento reconhecemos todas as situações de morte que não nos deixam avançar para a ressurreição com Cristo e pedimos que Ele nos liberte para podermos nascer para a nova vida.
Como vemos, há uma unidade em todos os momentos, gestos e palavras que fazem da Eucaristia um momento de acção de graças único. Se lhe retirarmos alguma das suas partes ela perde sentido. “A Missa começa com o sinal da cruz, com estes ritos introdutórios, porque ali começamos a adorar Deus como comunidade. E por isso é importante procurar não chegar atrasado mas, ao contrário, antecipadamente, a fim de preparar o coração para este rito, para esta celebração da comunidade.” (Papa Francisco, Audiência Geral 20 de Dezembro de 2017).
Carlos Vieira, ocd