A singela notícia tal como a li nos jornais dizia o seguinte: Um menino de oito anos, Blake, de Fort Worth, no Texas, foi maltratado pelo seu pai; ele e a sua mãe foram reiteradamente vítimas de violência familiar. Em finais de novembro de 2020 fugiram ambos, sob promessa da mãe, de que iriam para lugar seguro, onde não haveria medo do pai. Recolhidos num refúgio, o menino ainda tinha medo à hora em que escreveu uma carta ao Pai Natal, e por isso ainda não queria falar com as outras crianças. Isso dizia no início da notícia…
(A carta é provavelmente escrita com apoio de assistentes sociais, mas, a vários títulos eficaz…)
Continuava:
«Querido Pai Natal,
tivemos de abandonar a nossa casa. O papá estava louco… Vens este Natal? Aqui não temos nenhuma das nossas coisas. Consegues trazer alguns livros, um dicionário, uma bússola e um relógio? Ah, Pai Natal, eu também quero um pai muito, muito, muito bom. Consegues trazer um também?
Amo-te!
Blake.»
Confesso que a cartita do menino me enterneceu até ás lágrimas. Estou a ficar velho, ou talvez não seja só isso… talvez algo mais.
Na Oração de Vésperas chorei para dentro, que há coisas que se por fora, ninguém as vê. Ora, ali estava um menino como tantos meninos do nosso mundo, e pela certa, como muitos bem perto de nós. Meninos chamados à vida, e destroçados em flor ainda antes de se poderem valer; meninos valentes, cuja fragilidade se ergue diante de nós, reclamando um pai, um colo protector, um modelo.
Quantos meninos há sem pai? Quantos há, que tendo-o, melhor fora não o ter? Quantos anjos foram já picados pelo Mal, sem outras mãos que os defendam? Quantos há entre nós, cujas mãos são ainda incapazes de se erguer para se defenderem? Quantos? Quantos, meu Deus?…
Que dirão a esses meninos os seus Anjos da Guarda? E quem recolherá as lágrimas sagradas desses meninos e meninas, de tantas mulheres violentadas, de tantos homens sovados? Quem possui pano de linho alvo, que mereça recolher lágrimas tão imerecidas? Quem, meu Deus Menino? Em que singelo altar, senão o teu, haveremos de depor oração tão crua e tão pura?
No dia 8 de Dezembro de 2020, Solenidade da Imaculada, o Papa Francisco abriu o Ano de São José, pai de Jesus, que ama a Igreja com coração de pai.
Sim, temos pai, temos pai!
Digámo-lo, certeiros: temos pai!
O pai que em José amou Jesus, ama-nos a nós, a todos os meninos e meninas sem pai.
Hoje, não sei porquê, vou encostar a cabeça no peito de São José.
NOTA: Gratidão a todos os colaboradores e colaboradoras, em especial ao Guilherme Fernandes, autor da capa. Bem-hajam.