Encontramo-nos no tempo da grande azáfama das colheitas: é o período no qual a produção dos campos, pomares e vinhas é colhida. Os celeiros, as eiras e as prensas de vinho e azeitonas trabalham a todo o vapor. Semanas e meses de labuta e de suor empregados no solo são finalmente recompensados. É o tempo das colheitas, do júbilo e da bênção: “Deus conduziu o seu povo para uma terra excelente e alimentou-o com os frutos dos campos; sustentou-o com o mel dos rochedos e o azeite da terra pedregosa, com a nata das vacas e o leite das ovelhas, com a flor da farinha do trigo e com o sumo generoso da uva” (Dt 32, 13-14).

É um tempo que nos convida à oração: “Deus, fonte de todos os bens, nos abençoe e favoreça os nossos trabalhos, para que nos alegremos com os seus dons e O louvemos para sempre”. Reparemos em duas coisas tão belas: a oração e o trabalho: Nós vos apresentamos, Senhor, os frutos da terra, da videira e do trabalho humano, para que se tornem para nós em pão de vida e em vinho de salvação. Um Deus de bondade – “dando-nos as chuvas e as estações férteis” (Act 14, 17) – e a colheita dos frutos da terra. Numa breve meditação, gostava de lembrar aqui um texto bíblico e um costume popular. O texto bíblico é o de Lc 12, 16-21, que refere o homem rico a quem as terras deram uma grande colheita. Perante a abundância dos seus muitos bens, este rico insensato e avarento exclama: “descansa, come, bebe e regala-te”. Na verdade, parece que nessa mesma noite entregou a alma ao Criador. Bem ao contrário, o salmo 111 louva o homem de coração bondoso e compassivo, que reparte com largueza pelos pobres. Esta vida breve poderá ser considerada como um período de preparação para a vida eterna, a vida em que a fortuna material não conta e onde somente a riqueza espiritual tem valor. O costume popular é o da merenda: da parte da tarde, a seguir à sesta e antes de iniciar os trabalhos no campo, ainda com muito sol, comia-se a merenda. Convém anotar que a palavra merenda veio do latim memere, que quer dizer merecer. Para comer alguma coisa todos tinham de fazer por a merecer, quer dizer, tinham de trabalhar. Se bem me lembro, já São Paulo dizia: “Se alguém não quer trabalhar também não coma” (2Ts 3, 7). Também se dizia por algumas bandas: “Pelo São Miguel acaba-se a merenda e o farnel!” A partir do dia 29 de Setembro – dia de São Miguel – acabava a sesta e deixava de ser obrigatória a merenda, pois com a passagem recente do equinócio e entrada no Outono, o dia solar fica cada vez mais pequeno.

Lembrando hoje de forma particular todas as pessoas que se dedicam à agricultura, e mais ainda aos que trabalham no campo, quero dirigir-me a Deus com esta prece da Celebração das Bênçãos: “Deus de bondade, que, na vossa benigna providência, nos destes o alimento que a terra produziu, fazei que estes frutos, colhidos da terra com o suor do nosso rosto, sustentem a nossa vida e fortaleçam o nosso espírito”.

A minha mãe, quando enchia a abada de feijão, as prateleiras de batatas, a eira de milho, o alpendre de cebolas, o lagar de uvas… dizia sempre: isto é um louvar a Deus. Que assim seja!