Sobre a importância dos pequenos gestos escreveu D. José Tolentino Mendonça: “Por vezes devíamos fazer o elogio dos pequenos gestos de cada dia e colher a grandeza que se esconde, na realidade, naquele que nos parece nada mais do que uma expressão de vida mínima” (In Avvenire, 14/05/2019).

No exercício do meu ministério sacerdotal presidi ao funeral do Joaquim Nogueira Soares. O Joaquim era um trabalhador agrícola, de 52 anos, meu conhecido há vários anos. Era mesmo pobre: não tinha esposa, nem filhos, nem dinheiro… Mas era humilde e simples como uma criança. Mas o meu elogio do pequeno gesto refere-se ao momento em que, no cemitério, rezava a última encomendação. Levantando os olhos do Ritual vi que o pai, os irmãos e as irmãs do Joaquim tinham as mãos fortemente entrelaçadas entre eles enquanto as lágrimas escorriam pelas suas faces. É uma forma de comunicar a grandeza de uma verdade profunda – amor de pais e irmãos – que não se diz com palavras.

Outro momento corriqueiro e sem nada de especial (um pequeno gesto) diz respeito a um rapaz de 20 anos – Gedson Fernandes – que acaba de se sagrar campeão nacional de futebol pelo SLB. Na imprensa desportiva li a legenda que ele próprio escreveu no Instagram, aquando de uma sua visita ao Santuário de Fátima: “Deixa a tua fé ser maior do que a tua fama”. Sei que o Gedson é de nacionalidade portuguesa, embora tenha nascido em São Tomé e Príncipe. Este “menino”, com os pés na soleira da fama, deixa-me um testemunho que me faz lembrar as palavras do Evangelho: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Segundo o depoimento de um grande número de famosos, “ilusões, depressões, solidão e desespero são a face oculta da fama”.

Pessoalmente não conheço o escritor marcuense Raúl Minhalma. Contudo, quase sem querer, li com o maior prazer um seu escrito que se intitulava: Porque é que vais trabalhar, mãe? Pela leitura fiquei a saber que a sua mãe era uma simples cantoneira da junta de freguesia e limitava-se a limpar as bermas das estradas. A resposta da mãe é do melhor que há em todos os sentidos: “porque quero mudar o mundo e torná-lo um lugar mais feliz”. A pergunta e a resposta deram-se quando o Rui tinha 5 anos. Agora, já crescido, repete ao filho o que aprendeu da mãe: “Dizia-me que aquilo que fazia era muito importante e que o mundo ficava mais contente e bonito sempre que ia trabalhar”. Que grande cantoneira! Até me faz lembrar a bela frase de Santa Teresa de Jesus: “O Senhor não olha tanto à grandeza das obras quanto ao amor com que se fazem. E se fizermos o que pudemos, Sua Majestade fará com que vamos podendo cada dia mais e mais, contanto que não nos cansemos depressa” (7M 4,15).

Momentos triviais e simples, mas de um significado profundo. Eles escrevem o que somos e narram a nossa história. Seria interessante repassar calmamente a nossa vida e recolher tantos pequenos gestos de cada dia, que acontecem em nós e à nossa volta, para descobrirmos tanta sabedoria e beleza que, por vezes, desperdiçamos.