Quando chego a casa tenho a alegria de ser recebido pelos dois atletas da família. Numa grande euforia gritam: papá… e se durante o pequeníssimo percurso a Maria é abalroada pelo Francisco, é certo que temos amuo à vista, superado apenas e só depois de breves mimos extra. Confesso que gosto desta recepção e como sei que daqui a uns anos será muito diferente, aproveito para usufruir dela no momento presente.

Num destes dias, depois do habitual caloroso acolhimento, o Francisco perguntou-me:
– Pai, lembras-te que ficaste de me falar dos Papás de Fátima?
Tens toda a razão, Francisco, respondi eu, preparando-me para um belo serão!
Como já te dissera, no tempo das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, o Papa que presidia à Igreja era Bento XV (1914-1922), mas a primeira alusão registada a um Papa ligado a Fátima aconteceu só com Pio XI (1922-1939), e pode resumir-se à oferta de uma pagela aos alunos do Pontifício Colégio Português em Roma, na qual estava escrita uma invocação a Nossa Senhora; o Papa benzeu uma imagem de Nossa Senhora de Fátima destinada a esse mesmo colégio e concedeu uma indulgência plenária aos peregrinos do Santuário.
Quando faleceu o Papa Pio XI, sucedeu-lhe o Papa Pio XII (1939-1958).
– Oh pai, e depois do 12 veio o 13?, interrompeu o Francisco!
Por acaso não, respondi eu e acrescentei: o nome do Papa não obedece a uma sequência!
– Então porque é que eles escolhem outro nome?, indagou ele!
Vamos lá ver se eu te consigo explicar de forma simples e abreviada. Quando o Cardeal eleito aceita a missão de Papa, é-lhe perguntado o nome pelo qual ele quer ser chamado. Esta tradição, embora antiga, nem sempre existiu. A primeira vez que um sucessor de São Pedro mudou de nome foi com um homem chamado Mercúrio, eleito no ano 532. Como tinha um nome pagão (deus grego Hermes), trocou o nome por João II, em honra do seu antecessor, João I, que tinha sido morto. Desde então, muitos dos seus sucessores, imitaram-no, alterando o nome de Baptismo.
– Mas ó pai, como é que eles inventam o nome novo e os números?, perguntou o Francisco, talvez confuso com tudo isto!
Repara, Francisco, na Bíblia, há alguns casos de pessoas que mudaram de nome. A Abrão, por exemplo, Deus chamou Abraão, que quer dizer “pai das nações”, pois Deus assim lho tinha prometido. Sarai, esposa de Abrão, recebeu o nome de Sara, “mãe e rainha das nações”, pois viria a ser mãe de reis. Jesus mudou o nome a Simão, e passou a chamar-lhe Pedro, que na língua de Jesus quer dizer “pedra”. Como podes concluir, a mudança de nome, significa assumir uma missão nova e especial.
– Oh pai, sabes uma coisa?, eu não quero mudar de nome, afirmou ele com toda a convicção!
Fico contente por saber que gostas do teu nome. Voltemos então a Fátima, rematei…
Foi com Pio XII que aconteceu a primeira atitude oficial do Vaticano para com Fátima, quando a 31 de Outubro de 1942, o Papa consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, acedendo ao pedido que Nossa Senhora transmitira aos Pastorinhos. Depois, a 13 de Maio de 1946, enviou uma pessoa muito amiga a Fátima para coroar a imagem de Nossa Senhora.
A Pio XII seguiu-se o Papa João XXIII (1958-1963). Tinha estado em Fátima a 13 de Maio de 1956, quando era Patriarca de Veneza. Depois de eleito Papa, convocou o grande Concílio Vaticano II.
Mas o primeiro Papa a visitar Fátima foi Paulo VI (1963-1978), no dia 13 de Maio de 1967, por ocasião dos 50 anos das Aparições de Nossa Senhora e simultaneamente 25º aniversário da consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Veio apenas a Fátima, como «peregrino humilde e confiante». Foi ele o grande continuador do Concílio Vaticano II.
A Paulo VI seguiu-se o Papa João Paulo I (1978), cujo pontificado durou apenas 33 dias. Tinha estado em Fátima a 10 de Julho de 1977, como Patriarca de Veneza, tendo então pedido aos peregrinos o cumprimento da Mensagem de Fátima.
Foi com o Papa João Paulo II (1978-2005) que as relações com Fátima se tornaram mais fortes. No dia 13 de Maio de 1981, quando o Papa passava por entre a multidão na praça de S. Pedro, em Roma, foi atingido por uma bala, disparada por um homem.
– Mataram o Papa?, interrompeu o Francisco.
Não, respondi eu. Felizmente a bala que o atingiu no abdómen não lhe causou danos maiores. João Paulo II atribuiu à protecção de Nossa Senhora de Fátima o facto de ter sobrevivido aos tiros que dispararam contra ele. E foi por isso que, no ano seguinte, veio a Fátima, para «agradecer à Divina Providência» tal facto, pois – como o disse várias vezes –, «uma mão materna» desviou a trajectória da bala. Dois anos depois ofereceu ao Santuário a bala que lhe retiraram do corpo, tendo esta sido colocada na coroa de Nossa Senhora. Este Papa voltou a Portugal em 1991, e ainda uma terceira vez a 13 de Maio de 2000, alegre por vir beatificar o Francisco e a Jacinta. Nesse dia foi revelada ao mundo a terceira parte do Segredo de Fátima.
Em Maio de 2010 esteve em Fátima o Papa Bento XVI (2005-2013) – que ainda vive em Roma. Ele conhecia muito bem Fátima e a Mensagem de Nossa Senhora. Já tinha estado cá quando era Cardeal. A ele se deve o grande estudo das Aparições e da Mensagem de Nossa Senhora, concretamente o comentário teológico da terceira parte do segredo.
E, como viste, em Maio passado, esteve em Fátima o Papa Francisco.
– Pois foi pai, passou mesmo à minha frente. Gosto muito dele, e “escolheu o meu nome” para Papa, concluiu o Francisco!
Senhora do Rosário de Fátima, intercedei junto de Jesus pelo nosso Papa, para que Deus o conserve e defenda no governo do povo santo de Deus.

Delfim Machado