Caminhamos já no tão desejado ano de 2021, com a esperança renovada de que este ano será melhor que aquele que ficou para trás. Embora, em termos da pandemia talvez não venha a ser muito diferente. No que se refere a tudo o resto que envolve a nossa vida, penso que tudo será bem melhor se mantivermos acesa a luz do Natal, que o Menino Jesus nos trouxe. O Menino nasceu para nós, «não estamos sozinhos», é importante mantermos a fé e a confiança, sempre unidos em família à semelhança da Sagrada Família de Nazaré.

Ainda antes de terminar 2020, o Papa Francisco anunciou um ano especial de oração pela família, para celebrar o quinto aniversário da Exortação Apostólica Amoris laetitia. Curiosamente começará no dia de São José, e terminará com a celebração do Encontro Mundial das Famílias, em junho de 2022. Recordemos que a 8 de dezembro de 2020, o Papa convocara já, através da sua Carta Apostólica Patris Corde, o ano de 2021, como o Ano de São José. Ali o Papa fala-nos do homem a quem «Deus confiou os seus tesouros mais preciosos: Jesus e Maria».  E descreve São José nas mais variadas vertentes, mas acima de tudo mostra-nos como confiou, incondicionalmente, nos planos que Deus tinha para si, apesar de todas as suas dúvidas e angústias.

Ao longo da nossa vida todos somos confrontados com dificuldades, umas vezes mais difíceis de vencer, outras menos. Atualmente verificamos que muitas são as famílias afetadas pela falta de trabalho, pela doença ou mesmo pela perda de alguém muito querido. Se ajudar, desembrulhemos novamente as figuras do Presépio e ali fixemos o nosso olhar. Também a família de Jesus passou por dificuldades, basta recordar o seu percurso.

As dificuldades do dia a dia e as incertezas quanto ao futuro inquietam-nos e toldam o nosso pensamento, deste modo também na Patris Corde, o Papa Francisco escreve: «Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reação, frequentemente é de desilusão e revolta». E aponta São José como um exemplo de superação das dificuldades: «Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer aos seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história. Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguimos dar nem mais um passo, porque ficaremos sempre reféns das nossas expectativas e consequentes desilusões».

Cada um de nós está inserido numa família, pois a família é uma condição necessária a todo o ser humano. No entanto, nem sempre é fácil a relação familiar. Um dos grandes inimigos da família é o tempo. Os horários são exigentes, o emprego é longe de casa e a televisão e redes sociais roubam o pouco que fica. Outro inimigo é a falta de paciência; queremos que tudo nos seja servido no imediato. É necessário, porém, que haja mais amor, generosidade e oração familiar, caso contrário não haverá entendimento.

Ainda em 2018, o Papa nos dizia que a família «é um tesouro a ser protegido e defendido». Não há nenhuma família sem problemas ou dificuldades, e quando estes surgem, muitas vezes não temos a capacidade de os resolver. Cada um enche-se de razão e não cede ao outro, e isto conduz à tristeza, à angústia e muitas vezes à separação. É importante saber gerir tudo isso e ter a capacidade de descobrir e maravilhar com o que de bom cada pessoa possui no seu interior. «Maravilhar-se», diz-nos o Papa «é abrir-se aos outros, compreender as razões dos outros: essa atitude é importante para curar relacionamentos comprometidos entre as pessoas e é também indispensável para curar feridas abertas no âmbito familiar». Quando uma família é confrontada com problemas, é quando deve permanecer mais unida e «rezar com coragem, até com importunação, sem nunca se cansar; porque a oração não é uma varinha mágica, mas uma busca, um trabalho, uma luta que requer vontade, constância e determinação». Aliás, já Jesus nos ensinou: «Pedi e ser-vos-á dado» (Mt 7:7-12).

Tal como a Sagrada Família de Nazaré, deixemos que Jesus seja o centro da nossa vida familiar. Não nos esqueçamos de Lhe rezar diariamente; não nos cansemos de pedir e confiar a nossa vida. Apesar das circunstâncias atuais que esta pandemia nos impõe, não deixemos de assistir à Eucaristia, em família, é ali que «Ele nos fala, nos oferece a sua Palavra, nos ilumina o nosso caminho, nos dá o seu Corpo (…) do qual tiramos força para enfrentar as dificuldades de todos os dias».

Sigamos o conselho do Papa Francisco para neste ano especial «aprofundar os conteúdos do documento Amoris laetitia, através das propostas e instrumentos pastorais, que estarão à disposição das comunidades eclesiásticas e das famílias, para acompanhá-las no seu caminho».

Márcia Vieira Borges