Continuamos a nossa pequena crónica relativa ao Sínodo sobre os Jovens. Desta vez venho falar-vos um pouco sobre o Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) que foi apresentado no Vaticano, no dia 8 de Maio, pelo Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos. É sobre este documento que os bispos do mundo inteiro e os demais delegados vão refletir no próximo mês de Outubro.
O documento com 214 pontos foi o resultado da consulta de todas as Conferências Episcopais do mundo, dos Dicastérios e da Cúria Romana, dos Sínodos das Igrejas Orientais Católicas e da União dos Superiores Gerais. Há ainda que fazer referência ao questionário online que contou com a resposta de mais de cem mil jovens bem como ao encontro de Março deste ano e ao documento que este produziu, que contou com a presença de trezentos jovens em Roma, sendo que a esse número se tem de acrescentar mais quinze mil participantes online.
Permitam-me um aparte para apresentar uma novidade aos leitores do Mensageiro: durante a Assembleia da União dos Superiores Gerais foi eleito o nosso Padre Geral, Fr. Saverio Cannistrà, como um dos 10 Superiores Gerais que participarão no Sínodo de Outubro. Assim, a presença carmelita no Sínodo está garantida ao mais alto nível.
Mas voltemos ao documento. Este está dividido em três grandes partes, cada uma com uma palavra a dar o mote à reflexão: reconhecer, interpretar e escolher. A primeira parte, Reconhecer: a Igreja à escuta da realidade, o documento reflete sobre os numerosos desafios que os jovens estão sujeitos nos nossos dias. Causados pela “cultura do descarte” e pelo mau uso da tecnologia, o documento refere alguns desafios: a descriminação religiosa, o racismo, a precariedade laboral, a pobreza, as dependências de álcool e drogas, o bullying, a exploração sexual, a corrupção, o tráfico de pessoas, entre outros.
Na segunda parte, Interpretar: fé e discernimento vocacional, analisa-se a problemática do discernimento vocacional à luz da teologia e da tradição bíblica, abordando ainda a temática do acompanhamento. O documento manifesta o desejo de uma reflexão aberta que considere não apenas o matrimónio, a vida consagrada e o ministério ordenado, mas também a situação daqueles que desejam apenas ficar solteiros sem qualquer tipo de consagração e a relação entre profissão e vocação. Sempre vivido na Igreja e para a Igreja, numa interdependência intrínseca.
Já a terceira parte, Escolher: percursos de conversão pastoral e missionária, reflete sobre os caminhos da conversão pastoral e missionária, começados com o discernimento de uma Igreja em saída. Propõe-se uma análise aos instrumentos e às práticas pastorais de forma a avaliar criticamente a eficácia e eficiência dos instrumentos utilizados bem como a sua eventual alteração ou supressão.
O documento encerra com uma reflexão sobre a santidade. Começa por recordar que a santidade é a vocação universal de cada batizado e afirma que a juventude é um tempo próprio para tal (cf. 212, 213). No último número, depois de refletir sobre os “jovens santos” e a importância de se conhecer a sua vida e o seu exemplo, diz: «Também vale a pena mencionar que, ao lado dos “jovens santos”, há a necessidade de apresentar aos jovens a “juventude dos Santos”. Todos os Santos, de facto, passaram pela idade juvenil e seria útil para os jovens de hoje mostrar como os Santos viveram o tempo de sua juventude. Seria possível, assim, compreender muitas situações juvenis, nem simples nem fáceis, mas nas quais Deus está presente e misteriosamente ativo. Mostrar que a Sua graça entra em ação por meio de percursos tortuosos de construção paciente de uma santidade que amadurece ao longo do tempo por vários caminhos imprevistos pode ajudar todos os jovens, sem exclusão alguma, a cultivar a esperança de uma santidade sempre possível.»
João da Cruz, no seu Cântico Espiritual, diz sobre a juventude: «assim como, na Primavera, a frescura da manhã é mais agradável do que as outras partes do dia, assim é a juventude diante de Deus.» (CB 30,4) E porquê? Responde o Santo no mesmo local: «porque as virtudes adquiridas neste tempo da juventude são escolhidas e muito agradáveis a Deus, precisamente por serem do tempo da juventude, a idade em que há mais oposição dos vícios para as adquirir e a natureza se encontra mais inclinada e pronta para as perder». Queridos jovens, somos preciosos aos olhos de Deus e Ele ama a nossa juventude. Apressemo-nos a fazer tudo quanto pudermos para seguir os passos de Jesus desde agora, não esperemos pelo amanhã; pode ser que não haja. Por isso, não deixe nunca de ressoar nos nossos corações a exortação do Apóstolo S. Pedro que a Igreja sempre continua a fazer: «assim como é santo Aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou santo.» (1Pe1, 15-16) Para isto fomos todos chamados. E especialmente nós, os jovens!
Frei André de Santa Maria, ocd