A Conferência Episcopal Portuguesa determinou que o ano pastoral de 2018/2019 seria o Ano Missionário, como resposta à vontade do Papa Francisco, convocando todos os fiéis a viverem intensamente esta missão que nos foi confiada pelo próprio Jesus: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» (Mt 28, 19).
Com efeito, todos os batizados são missionários e têm esta obrigação de anunciar o Evangelho de Jesus com o seu testemunho de vida, oração e ação. Uma missão que brota da celebração da Eucaristia (Missa = Missão), cume da oração cristã e centro da vida da Igreja.
O Carmelo, que na sua essência é contemplativo e cujo coração é a oração, é, na sua génese, profundamente missionário. Missão que germina da relação de intimidade com Deus, que constitui o carisma dos carmelitas.
Quando Santa Teresa de Jesus fundou o Carmelo Descalço tinha, precisamente, em mente este ardor missionário, que lhe consumia a alma e a levou a entregar-se sem reservas ao Senhor, mediante a coerência e autenticidade de vida, numa consagração puramente contemplativa, oferecendo-se, e à sua obra, pela salvação das almas, em «obséquio de Jesus Cristo». (Regra do Carmelo 2)
No seu livro Caminho de Perfeição, ela escreveu a esse propósito: «Parecia-me que seria capaz de dar mil vidas para salvar uma só das muitas almas que ali se perdiam. Mas, como me vi mulher, ruim e impossibilitada de avançar como eu queria no serviço do Senhor, toda a minha ânsia era, e ainda é, a seguinte: já que Ele tem tantos inimigos e tão poucos amigos, pelo menos que estes fossem bons. Por isso, determinei-me a fazer este pouquinho que está ao meu alcance, ou seja, seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição que eu pudesse e procurar que estas pouquinhas que aqui estão fizessem o mesmo. Eu confiava na bondade infinita de Deus, que nunca deixa de ajudar a quem por Ele se determina a deixar tudo. Se elas fossem iguais às que eu imaginava nos meus desejos, entre as suas virtudes se desfaziam as minhas faltas e, assim, eu poderia agradar nalguma coisa ao Senhor. Desta maneira, estando todas ocupadas em oração pelos defensores da Igreja – os pregadores e os letrados – ajudaríamos no que pudéssemos a este meu Senhor, que tão perseguido anda por aqueles a quem fez tanto bem.» (CP 2)
Na sua sabedoria, Santa Teresa sabia que a oração era a primeira e mais eficaz forma de se ser missionário, pois ser missionário não depende da vontade pessoal de cada um mas é uma resposta ao chamamento de Jesus Cristo, mediante a graça com a qual Ele capacita os seus discípulos. Assim, em primeiro lugar há que buscar esta intimidade com o Mestre, aprender d’Ele e com Ele, e depois anunciar o Evangelho com a vida, imitando Jesus, que, depois de retirado na solidão e intimidade com o Pai, ia ao encontro do povo para lhes levar a salvação.
O Carmelo é, pois, contemplativo e missionário e assim o testemunham os nossos muitos santos, ao longo destes quase cinco séculos de história.
Santa Teresa do Menino Jesus, que entrou no Carmelo de Lisieux aos quinze anos e nunca mais saiu da clausura, tinha este ardor missionário e foi de tal modo fecundo o seu apostolado contemplativo que o Papa Pio XI a declarou Padroeira Universal das Missões, ao lado do grande e incansável missionário São Francisco Xavier.
O Beato Eugénio do Menino Jesus salienta a importância da missão que todos temos dentro da Igreja: «Nós temos um lugar a ocupar, uma missão a cumprir no corpo místico de Cristo. Ocupar este lugar, realizar esta missão, são coisas inseparáveis da nossa perfeição, mais, constituem-na e a precisam. A santidade não se atinge senão no cumprimento do pensamento de Deus. A espiritualidade que nos conduz à santidade deve-nos revelar o este único desígnio de Deus que é a Igreja, que nos guia até ao lugar que aí nos está reservado e nos faz realizar a missão que aí nos é confiada.» (Quero ver a Deus, tº 662)
A missão do Carmelo, que é a missão da Igreja, deriva desta paixão por Deus e pelo Homem, que se traduz no desejo de levar Deus ao Homem e conduzir o Homem a Deus, para que a Salvação, oferecida gratuitamente através do Seu Filho Jesus Cristo, se concretize. E esta missão não termina com a vida terrena, ela continua na eternidade. Assim o expressou Santa Isabel da Trindade pouco antes de morrer: «Parece-me que, no Céu, a minha missão será de atrair as almas ajudando-as a saírem de si mesmas para aderirem a Deus por um movimento muito simples e todo feito de amor, e de as guardar nesse grande silêncio do interior que permite a Deus imprimir-se nelas, transformando-as em Si próprio.» (C 335)
Como palavra final, um desafio: sempre apaixonados por Jesus Cristo, ousemos ser missionários com o testemunho da nossa vida nos vários ambientes onde nos encontramos, movemos e existimos.
António José, ocds