Caros leitores do Mensageiro do Menino Jesus de Praga, a pedido do director do Mensageiro venho partilhar convosco um pouco da minha história, ou, como diria Santa Teresa de Jesus, venho falar-vos das maravilhas que Deus se dignou fazer na minha vida. Começo por me apresentar: sou o Fr. André, tenho 28 anos e sou natural de Lisboa. Neste momento estou na comunidade Carmelita da Foz do Douro, no Porto, a frequentar o 3º ano de Teologia.
Nasci a 13 de Maio de 1991 numa família de católicos não praticantes, mas muito boa. Ainda assim, fui batizado logo no dia 4 de Agosto, no dia em que se celebra S. João Maria Vianey, padroeiro dos Padres! Nunca tive catequese e nunca ia à missa. A única exceção era quando ia para a terra do meu pai. Quando lá estava, pela mão da minha avó, ia à missa, às procissões, ao terço… E gostava: a Igreja era bonita, havia momentos em que se cantava, em que se estava de pé, e depois sentados e depois de joelhos… Durante a missa até havia uma altura em que as pessoas iam comer alguma coisa. E claro, só indo a essas coisas é que eu tinha oportunidade de ver e cumprimentar alguns familiares e amigos. Agora, vejo que de tudo o Senhor se foi servindo para me chamar a Si.
Num certo dia de Quaresma, devia andar eu no 10º ou 11º ano, estava a estudar Biologia quando disse: “Isto está tudo tão bem feito que tem de haver aqui mais qualquer coisa”. Pousei o livro de Biologia e fui buscar um outro livro: a Bíblia. Durante toda essa Quaresma li os três primeiros Evangelhos. Quando a Quaresma acabou a minha vida tinha mudado. Tinha de me comprometer mais. A forma mais evidente foi esta: passei a ver a missa todos os domingos pela televisão. Podia acontecer tudo e mais alguma coisa: a verdade é que eu não saía dali enquanto a missa não acabasse! Passei também a rezar mais: o terço meditava-o todos os dias e lia a Palavra de Deus com mais assiduidade.
Tudo isto fez despertar em mim uma questão: será que Deus me queria padre? Um dia, enchi-me de coragem e fui falar com um padre, que me encaminhou para o Reitor do Seminário. Ora, eu não tinha dito nada aos meus pais. Mas no dia em que fui falar com o Reitor do Seminário disse-lhes tudo. Se tivesse dito que ia para a guerra a reacção não teria sido tão má. Para resumir a história, fui proibido de pensar “nessas coisas”. Tinha era de ir para a faculdade e tirar o meu curso. Ponto final. E assim fiz. Mais uma vez vejo a mão de Deus: na altura eu não tinha qualquer maturidade espiritual para aquele passo. Bendito seja Deus, que tem um tempo certo para tudo.
Continuei a comprometer-me sempre mais com a minha fé. Comecei a ir à missa a uma aldeia chamada Lagoa. Fazia parte do coro e estava sempre disponível para ajudar no que fosse preciso. Incitado pela minha avó paterna, resolvi que devia fazer os restantes sacramentos da iniciação cristã. Numa Quaresma, fui falar com o sacerdote e expus-lhe a situação. Ele colocou-me a mão no ombro e disse-me: “temos de tratar disso”. No final dessa Quaresma, em noite de Sábado Santo, fui Crismado e comunguei pela primeira vez. A alegria que senti naquele dia foi tanta que nem consigo colocar por palavras. Estava tão feliz que, só para verdes, nem queria lavar a cara para não desaparecer da minha testa a unção do Crisma!
O tempo passou mas a questão da vocação não me saía da cabeça. Deus colocou na minha vida uma pessoa que veio a ser determinante para mim, o P. Carlos Pinto. Atento, começou a falar comigo e entendeu que o Senhor estava a querer-me para Si de um modo especial. Fui fazendo caminho, acompanhado por ele até que acabei o meu curso. Era a altura do “ou vai ou racha”! Depressa ficou claro que me sentia chamado ao sacerdócio. E pensei cá para comigo: “pronto, desta é que vou mesmo para o Seminário”.
Estava tudo claro até ao dia que o Senhor me trocou as voltas. Um dia o P. Carlos disse-me que uma irmã carmelita do Carmelo de Fátima havia enviado um e-mail a dar conta de uma actividade vocacional em Fátima, o Rumos, e perguntou-me se eu queria ir. Eu, que dizia sempre que não aos retiros que ele me propunha a este disse que sim. Era Deus a trabalhar em mim!
O Rumos mudou a minha vida. Parecia que a espiritualidade carmelita tinha sido feita para mim. Eu, que já estava convencido de que devia ir para o Seminário, compreendi que o Senhor me queria como Carmelita. Podem imaginar o que foi dar esta notícia aos meus pais… Graças a Deus, as coisas estão muito melhores.
Depois de alguns momentos difíceis, no dia 14 de Junho de 2015 saí de casa dos meus pais e entrei no Convento dos Padres Carmelitas em Fátima. Para mim, esse é o dia da minha entrada na Ordem. Fiz dois anos de Postulantado no Porto, e o ano passado estive de Noviciado em Fátima. Agora regressei ao Porto para prosseguir os estudos teológicos. A caminhada continua. Mas para continuar a correr bem, peço-vos que rezem por mim. Eu prometo fazer o mesmo por vós.
André de Santa Maria