Encontramo-nos nos meses mais floridos do ano em Portugal. Para onde quer que olhemos, ou por onde quer que caminhemos, é impossível não sentir a vida nova das árvores, a harmonia da diversidade incontável das flores, a beleza da Mãe natureza oferecida e anunciada como hino de louvor ao Criador delas. Realmente “a primavera vem depois do inverno, e a alegria virá depois da cruz”. Neste tempo, a natureza é um verdadeiro hino à “luz ressuscitada e ressuscitadora” que se expande pelos “prados de verduras e de flores esmaltado”, por onde Deus, ao passar, “os deixou vestidos de formosura”, como canta São João da Cruz. Na verdade, a Natureza, no seu ritmo próprio, antecipa-se a anunciar a Páscoa Florida de Cristo Ressuscitado.
Dentro de poucos dias, veremos os cristãos católicos a ir de casa em casa, com uma Cruz coroada de flores e perfumada, dando-a a beijar e anunciando: Cristo Ressuscitou! Aleluia! Afinal, foi isto mesmo que o Anjo disse às mulheres que foram ao sepulcro: “Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito” Mt 28, 6). E as mulheres, “cheias de temor e de grande alegria, correram a dar a notícia aos discípulos” (Mt 28, 8).
Há uma coisa que me fascina nesta contemplação da natureza: a beleza posta à vista de todos para que a vida seja mais bonita, mais alegre e mais comunicada. Para gozar da beleza da natureza não há convites particulares, pois ela oferece-se generosamente a todos; também não há muros nem condomínios fechados, pois ela escancara-se e não se esconde de ninguém nem a ninguém. Lembro-me, a propósito, do que me contou um dia a Maria José: “Fui convidada por uma amiga para passar uns dias de férias na sua casa. Ao chegar surpreendeu-me a fealdade da sua fachada de cimento com duas janelitas e uma porta no grande casarão. Apenas entrei e tudo mudou: diante dos meus olhos estava uma enorme e bela paisagem de um bosque outonal na montanha e de luz, muita luz, que atravessava uma parede transparente. A fachada da frente, que não se via da rua, era toda de vidro e convidava a contemplar. Recordo que, nesses dias, madrugava para me sentar e recrear conectando com aquela beleza que entrava e envolvia toda a sala, mas dela só disfrutavam os seus moradores, ou convidados, porque os muros de cimento escondiam-na para fora”. Dizia-me a Maria José que essa sua amiga idealizou a casa daquela maneira e naquele lugar porque “o mundo é hostil, violento, agressivo, invasor e quando entro em casa só quero receber beleza, luz, intimidade e encher-me de paz”. Ora, concluo eu, a beleza, a luz, a paz não podem ficar dentro dos nossos muros de cimento (preconceitos, autosuficiência, egoísmo e vaidade…), mas deve ser oferecida ao mundo, que é o “jardim da comunhão”.
“O caminho rumo à Páscoa chama-nos a restaurar a nossa fisionomia e o nosso coração de cristãos”, escreveu o Papa Francisco. Com a natureza e com as mulheres, iremos de casa em casa, libertos da tristeza, do pecado e da morte, cantar o mistério desta Páscoa florida. Chegou o tempo da nova aliança com a vida. Cristo ressuscitou! Aleluia! Feliz Páscoa.