Queridos devotos e amigos do Divino Menino Jesus de Praga

As palavras que escutámos nas leituras são mesmo para nós que viemos de peregrinação ao Santuário do Menino. Peregrinar é sair do lugar em que nós habitamos em direcção a um lugar que antecipa e significa a morada onde nós queremos habitar para sempre. Esta terra, chamada Avessadas, é hoje para nós um lugar sagrado de encontro com Deus. Nem tudo o que vemos e ouvimos é sagrado, mas tudo serve para nos ajudar a realizar nesta vida o sagrado encontro com Deus. Este encontro realiza-se durante um tempo que é sagrado, como este tempo da Missa, que é o momento alto da nossa peregrinação, embora a procissão da tarde nos encha mais os olhos e ilustre melhor os mistérios da infância de Jesus menino.

A primeira leitura recordou-nos o sábado da primeira criação, em que Deus descansou e, com o seu exemplo, exortou os homens ao descanso dos seus trabalho temporais. No Evangelho Jesus anunciou-nos um novo sábado, que serve para celebrar a obra da redenção, ou seja, o domingo da ressurreição. Aos olhos de Deus todo o trabalho humano é sagrado e destina-se ao culto e à adoração de Deus: o culto está inscrito na ordem da criação (cf. CIC, 347). O sétimo dia encerra a criação das coisas da terra, mas o oitava dia, ou primeiro dia da nova semana, inaugura o tempo novo, permitindo a experiência do encontro definitivo com Deus (cf. CIC, 349). Aos antigos foi dito por meio de Moisés: «Guarda o dia de sábado, para o santificares» (Deut 5, 12). Mas Cristo coloca o sábado ao serviço do homem: «o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado» (Mc 2, 28). Era como se Jesus dissesse: o dia santo destina-se ao serviço do bem, que é Deus. E deu o exemplo, curando no dia santo aquele homem que tinha a mão atrofiada. O nosso dia santo é o domingo, que se destina ao serviço do culto que agrada a Deus e pode salvar o homem. O maior bem é a salvação que Deus oferece a cada um, conforme as suas necessidades, mesmo sem a pedirmos. Aquele homem do evangelho tinha ido à sinagoga para a oração, como nós viemos a esta peregrinação. Ele não pediu a Jesus para o curar. Foi Jesus que o chamou: «Levanta-te e vem aqui para o meio». Jesus tinha ido à sinagoga para fazer o seu serviço, curando e salvando. Foi Jesus menino que nos reuniu hoje nesta sua casa para fazermos a festa do amor de Deus por nós. Aceitámos o convite de Jesus e estamos aqui: agora, fixemos em Jesus os nossos olhos e façamos tudo quanto Ele nos disser, como prova da nossa fé, para que Ele cure em nós a mão atrofiada que nos impede de trabalhar na obra da nossa santificação e no serviço dos mais próximos.

Queridos peregrinos: a nossa devoção ao Menino Jesus é uma afirmação da nossa gratidão para com Deus, que nos enviou o seu Filho para nos salvar. A infância de Jesus é como um espelho no qual podemos contemplar a nossa natureza humana. O que nós somos hoje já estava todo presente no primeiro dia da nossa existência no ventre da nossa mãe. Pensemos nisto à luz dos mistérios da santa infância de Jesus, a Quem dedicamos a procissão da tarde. Procuremos descobrir os mistérios da nossa infância à luz da infância do Menino Jesus. Descobriremos os desígnios de Deus a nosso respeito e a presença de Jesus na nossa vida, muitas vezes perdido e tantas vezes encontrado. Aproveitemos este tempo que passamos junto do Menino para O honrarmos e sermos por Ele favorecidos, curados e salvos.

Aclamemo-l’O: Divino Menino Jesus de Praga. Abençoai-nos.