Se bem me lembro dos saudosos dias vividos no Santuário, os rentes ao mês de Junho eram agitados. Uns belos dias, quero dizer. Por esta altura, estaríamos preparando-nos para celebrar mais uma Peregrinação Nacional ao Santuário do Menino Jesus de Praga; não é, porém, mais uma vez, o caso deste ano. E assim o frenesim dá lugar à placidez.
Agora que lá não vivo procuro ir inteirando-me; e dizem-me: os peregrinos vão regressando, vão regressando, pois existem muitos corações cujo único norte é o coração do Reizinho. Sim, sim, os buscadores de infinito, sedentos, vão-se achegando aos pés do Menino e aqui se detêm, serenam e se recompõem. Mas este ano de 2021 ainda não será de celebração da Peregrinação Nacional! E não o sendo, dei comigo a pensar numa outra dimensão da peregrinação: a interioridade — dimensão quase sempre menosprezada, senão mesmo, esquecida.
Proponho, pois, a todos os devotos do Menino Jesus uma peregrinação ao Santuário da vida interior. Sabendo o que sei, é mais difícil esta do que ir a pé a Fátima, a Roma, a Santiago ou a Avessadas! Existe ainda uma outra diferença: uma peregrinação é essencialmente comunitária, a peregrinação interior é sobretudo pessoal e interior. E uma outra: podemos rumar para lá sempre que quisermos.
Mas, vamos lá: Cada ser humano tem um verso e um reverso, temos exterioridade e interioridade. Somos como um castelo: por fora estão o fosso e as muralhas, lá dentro muitas salas ou moradas; não direi que umas se seguem às outras, mas que umas rodeiam as outras e a central é o centro mais profundo de cada um de nós mesmos.
Devo insistir na verdade: dá trabalho sair de si, entrar e entrar e entrar no castelo, e chegar ao mais profundo centro de si, pois tantos são os desafios, ratoeiras, perigos, seduções, medos, riscos, fantasmas. Mas, vale a pena ir, sim.
Habitualmente ficamo-nos muito pelo exterior da nossa casa — o nosso corpo —, ocupados em cuidar da fachada e dos jardins do entorno. Mais raramente nos avantajamos pelos salões da interioridade; tão raramente que a grande maioria não chega ao mais profundo centro, onde só mora o Rei! Sim, sabemos que lá no fundo existe uma Sala do Trono, onde o Rei nos aguarda, mas já ficamos felizes e satisfeitos com um simples ver e admirar os salões, seus quadros reais expostos nas paredes que antecedem aquela jubilosa sala!
Diz quem costuma ir visitá-lO ao profundo centro, ao Santuário interior, à tal Sala do trono, dizem que um momentinho ali, a sós, com Ele, vale mil anos! É por isso que proponho a todos: atreves-te a fazer uma peregrinação interior até ao mais profundo centro de ti, até onde Jesus te espera? Atreves-te a ir o Seu encontro?
Olha que é bem possível encontrá-lO nos jardins ou nalgum imprevisto da vida, mas se Ele gosta de ser visitado no mais secreto do Santuário da alma, porque não visitá-lO lá?
João Costa