O Natal, as Janeiras e o Dia de Reis marcaram a minha infância religiosa. Os Reis Magos foram sempre para mim “uns sábios vindos de longe, do Oriente” à procura do Deus Menino. Fiquei sempre com grande simpatia por estes homens que percebiam de matemática, medicina e astronomia. É a simpatia pelos “cientistas”, que ainda hoje nutro, porque não são dogmáticos e vivem inquietos por conhecer melhor o mundo e o ser humano que, como Deus, é sempre antigo e sempre novo. Pelo contrário, sempre senti uma grande antipatia pelo Herodes, um rei poderoso mas mau, nada “cientista”. Eu não gosto de gente má. Provavelmente recebeu os Magos, em Jerusalém, com todas as honras de chefes de Estado. Porém, quando soube o verdadeiro motivo da visita, sente-se ameaçado. O Rei Salvador recém-nascido poderia roubar-lhe o trono. Por isso, fingindo interesse e devoção, procurou saber sobre as profecias, guiando os magos para Belém. Pede-lhes que, depois de encontrarem o Menino, voltem para lhe indicar o local onde estava, para que também ele pudesse ir adorá-l’O. Herodes, na verdade, sanguinário como era, queria matar o Menino, como já fizera com dois filhos seus, por causa do medo de perder o poder. Os Magos “regressaram à sua terra por outro caminho” e nunca mais quiseram ver o Herodes. Mas ele, “ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo” (Mt 2, 16).

Chegados a Belém, os Reis Magos depararam-se com a maior das surpresas: o Rei soberano das nações, o Filho de Deus, nascera numa família pobre e simples. Não nasceu em berço de ouro, mas numa manjedoura! Mesmo assim, os Reis reconheceram naquele Menino o soberano das nações, o Príncipe da Paz, e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. O ouro significa a realeza, o incenso a divindade e a mirra a humanidade e o sofrimento. Também estes Reis sábios, vindos de longe, descobriram que “o Essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração” (Principezinho). Por isso, “prostrando-se, adoraram-no”. A adoração dos Magos ao Menino Jesus tem um significado profundo. Sendo cientistas, eles representam a ciência que procura a Deus, encontra-o, reconhece-o e se ajoelha diante d’Ele num gesto de humildade e adoração. Os Magos ensinam-nos que a ciência e o conhecimento conduzem-nos ao reconhecimento de Deus. Num mundo onde alguns cientistas procuram negar a Deus, outros, pelo contrário, seguem o exemplo dos Magos: reconhecem a Deus na criação e em tudo o que existe e, prostrados, adoram-no como Deus, Pai e soberano do universo.

Hoje fico a pensar muito na inspiração de os Magos “regressarem à sua terra por outro caminho”. Fugir da maldade, da vingança e do poder doentio. Olhar para o “Céu” e encher-se de alegria pela “Luz” que nos leva a Belém. A estrela e os Reis Magos, embora não sejam o Essencial no presépio, também não estão a mais. Quem «procura e encontra» o Menino Jesus descobre sempre um Caminho novo: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). Santo e Feliz Natal. Um bom caminho para 2020!

Agostinho  Leal, ocd