“O que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos” (1Jo 1, 2). Sim, os apóstolos andaram com Jesus, tocaram-no, viram-no com fome, a encher-se de compaixão…, mas também O viram e ouviram ressuscitado. Eles não tinham problema nenhum em acreditar na humanidade de Jesus. No entanto, diante do sepulcro vazio, o cepticismo deles não era muito diferente do cepticismo do inimigo. Sem dúvida alguma, Jesus tinha morrido. Quando Maria Madalena disse aos discípulos que tinham visto Jesus e que ele estava vivo, eles “não acreditaram”. Quando o próprio Jesus se encontrou com os onze, “censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração em não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado” (Mc 16, 14).

Hoje quis fazer uma visita ao Pedro e pedir-lhe que me ajudasse a combater alguma incredulidade e dureza do meu coração. Pedro fez-me sentar a seu lado e abriu-me o Livro dos Actos dos Apóstolos. Começou por me dizer que “a eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas provas com as suas aparições” (Act 2, 3). Depois leu-me o discurso que dirigiu à multidão a seguir ao Pentecostes, no qual afirmava, sem medo, que a “Jesus de Nazaré, cravado na cruz pela mão de gente perversa… Deus o ressuscitou” (Act 2, 24). Contou-me todo o episódio da cura de um aleijado à porta do templo, onde ele e João se viram bem apertados: “deitaram-lhes as mãos e prenderam-nos até ao dia seguinte” (Act 4, 3). Postos em liberdade, continuavam no templo a ensinar o povo e “o povo não cessava de os enaltecer” (Act 5, 13). Isto causou outro sururu com altercações mútuas, a prisão e açoites, a intervenção de Gamaliel, a proibição de falar no nome de Jesus e, por fim, a libertação (cf. Act 5). Foi uma delícia ler em conjunto este livro dos Actos! Por fim, Pedro ofereceu-me duas cartas escritas por ele “aos que peregrinam na diáspora” (1Pe 1, 1). Nelas garantia o seu testemunho: “De facto, demo-vos a conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não por havermos ido atrás de fábulas engenhosas, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade” (2Pe 1, 16).

Pela vida e pela palavra de Pedro compreendi que a experiência da ressurreição de Jesus vive-se para cá da morte, vivendo como Ele nos ensinou e mandou. A força da ressurreição de Cristo é para se viver já, agora e aqui. Sobre a vida «para além da morte» podemos ter uma ideia. Mas a realidade agora é a vida que nos foi dada em Cristo «para cá da morte». «A realidade é mais importante do que a ideia», disse o Papa Francisco (EG 231). Não temos de estar à espera de morrer para gozar de Deus e da sua intimidade: «Encontrei o meu céu na terra, porque o céu é Deus e Deus está na minha alma» (Santa Isabel da Trindade).

A força de Cristo ressuscitado, segundo Pedro, exige da nossa parte “pôr todo o empenho em juntar à fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento a temperança; à temperança a paciência; à paciência a piedade; à piedade o amor aos irmãos; e ao amor aos irmãos a caridade” (2Pe 1, 5-7). Muito obrigado, Pedro, por me haveres confirmado na fé.