«Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio» (Lc 1,39-44).
Saltemos de alegria, pois temos razões para isso. Deus, uma vez mais, quer vir até nós, à nossa vida, e aperfeiçoar a nossa história com a celebração do nascimento de seu Filho Jesus. N’Ele havemos de colocar o nosso olhar, a fim de aprendermos a caminhar para Deus, para os homens e com os homens. Só não o conseguiremos, se, novamente, deixarmos passar em branco esta celebração. E deixar passar em branco é tornar-nos impermeáveis ao acontecimento do amor misericordioso e reconciliador de Deus com a Humanidade. É não permitir que ele nos conquiste, renove e transforme, ao ponto de nos determinar a viver com toda a seriedade e responsabilidade a nossa identidade cristã. Essa celebração, ao contrário das outras vezes, há-de, inclusive, levar-nos a procurar os meios e as condições, sabendo nós que, a partir de um determinado momento, a única coisa de essencial que haverá a fazer, será, simplesmente, passar o “timão” a Deus, que já tem muito que se lhe diga, e este, sim, é que vem a ser um grande «feito».
“Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio”. Quando dou comigo a ler este texto, e, nomeadamente, este versículo, a primeira coisa que me trabalha por dentro, diria assim, é uma certa consideração de como Maria se deve ter sentido antes e depois da visita à sua prima Isabel. Por um lado, havia a maravilhosa notícia de Isabel, após uma vida sem filhos. Mas que pensaria Isabel, mulher do sacerdote Zacarias, da notícia de Maria? Acreditaria nela ou evitá-la-ia?
Cheia do Espírito Santo, Isabel toma a Palavra e confirma Maria como a mãe do Messias há muito esperado. Que pensaria Maria dessas Palavras? Os versículos que se seguem ao texto acima citado dão uma chave importante (ver Lc 1,46-56). O Espírito Santo vem a ser o guia de Isabel e de Maria. Alguma vez sentiste que o Espírito Santo te guiasse? Que recordas desses momentos? O tempo litúrgico que vais viver também te conduz a este tipo de meditação.
Pois, bem, mas entremos, então, no texto… Perante a espantosa notícia da inesperada gravidez de sua prima Isabel, Maria não demorou a fazer a mala e ir visitá-la. Agora, também ela tem uma notícia incrível sobre si própria.
Como acontece com muitos dos anúncios e das acções de Deus, pode levar tempo até que as pessoas envolvidas percebam o seu significado pleno. A mulher de Abraão, Sara, riu-se quando lhe disseram que ia ser mãe na sua velhice (Gn 18,12). Zacarias, o marido de Isabel, duvidou e ficou mudo durante toda a gravidez de Isabel (Lc 1,20). Maria, fossem quais fossem as suas dúvidas e ansiedades, simplesmente aceitou o que Deus queria: “Servirei o Senhor como Ele quiser. Seja como Tu dizes” (Lc 1,38).
Uma saudação anuncia a Isabel a chegada de Maria e causa uma coisa surpreendente: o bebé de Isabel saltou-lhe no seio. Provavelmente, ela já estava habituada a que o bebé se mexesse. O que é surpreendente é que foi o Espírito Santo que causou esse movimento. E Isabel, cheia do Espírito Santo, «reconhece» e proclama Maria como mãe do Senhor e bendi-la nesse papel.
Esta breve passagem é, normalmente, chamada a Visitação. Não só Maria visita Isabel, mas também Jesus faz a sua primeira visita ao «seu povo». João, ainda oculto no seio de Isabel, reconhece Jesus como o Messias e salta de alegria.
Como aquele encontro deve ter sido admirável para as duas mulheres grávidas e para os bebés que traziam em si. Um verdadeiro encorajamento para cada uma delas. A fé de Maria deve ter recebido um estímulo extraordinário. Ao bendizer Maria, Isabel faz-se eco das palavras do Anjo Gabriel a Maria (Lc 1,28.30.33).
É todo este acontecimento que deve mexer contigo neste tempo de Advento e Natal, e que eu quis, desta vez, trazer para tua oração. Termino, pondo, também, à tua disposição o Salmo 121, já que evidencia esse retrato do ‘Emmanuel’ (“Deus connosco”), que, novamente, ‘vai nascer’:
Levanto os olhos para os montes:
de onde me virá o auxílio?
O meu auxílio vem do SENHOR
que fez o céu e a terra.
Ele não deixará que vacilem os teus pés;
aquele que te guarda, não dormirá.
Pois não há-de dormir nem dormitar,
aquele que guarda Israel.
O SENHOR é quem te guarda
e está a teu lado.
Ele é a tua protecção.
O Sol não te fará mal durante o dia,
nem a Lua, durante a noite.
O SENHOR protege-te
de todo o mal e vela pela tua vida.
O SENHOR protege-te
nas tuas idas e vindas,
agora e para sempre.
P. Vasco Nuno, ocd