Em 1895 a Madre Inês de Jesus confiou à sua irmã mais nova, Teresa do Menino Jesus, o seu primeiro irmão espiritual, o Pe. Maurício Bellière. Sete meses depois, em maio de 1896, após a sua reeleição como prioresa do Carmelo de Lisieux, a Madre Maria de Gonzaga confiou a Teresa o seu segundo irmão espiritual, o Pe. Adolfo Rolland.
Teresa estabeleceu com estes dois missionários (o primeiro da Congregação dos Padres Brancos e o segundo das Missões Estrangeiras de Paris) uma profunda amizade e uma rica correspondência.
Com a sua oração, Teresa era o apoio dos seus irmãos missionários na sua tarefa evangelizadora, nas terras longínquas onde se encontravam. Manifestava-se, assim, numa complementaridade perfeita as duas faces da mesma moeda – oração e ação – da missão evangelizadora. Foi o que Teresa escreveu ao Pe. Bellière: «Trabalhemos juntos na salvação das almas, só temos o único dia desta vida para as salvar e dar assim ao Senhor provas do nosso amor.»
Numa carta ao Pe. Rolland Teresa deixa transparecer a sua vocação contemplativa unida à vocação missionária do seu irmão espiritual: «Mais do que nunca, compreendo que os mais pequenos acontecimentos da nossa vida são conduzidos por Deus, é Ele que nos faz desejar e que satisfaz os nossos desejos… Quando a nossa boa Madre me propôs tornar-me vossa auxiliar, confesso-vos, meu Irmão, que hesitei. Considerando as virtudes das santas carmelitas que me rodeiam, parecia-me que a nossa Madre teria servido melhor os vossos interesses espirituais escolhendo para vós qualquer outra Irmã, só o pensamento de que Jesus não olharia às minhas obras imperfeitas mas à minha boa vontade, me fez aceitar a honra de partilhar dos vossos trabalhos apostólicos. Eu não sabia então que Nosso Senhor mesmo me tinha escolhido, Ele que Se serve dos instrumentos mais fracos para operar maravilhas!… Não sabia que desde há 6 anos tinha um irmão que se preparava para ser Missionário; agora que este irmão é verdadeiramente seu Apóstolo, Jesus revela-me este mistério sem dúvida para aumentar ainda no meu coração o desejo de O amar e de O fazer amar.»
Ao Pe. Bellière Teresa manifesta a amizade profunda que os une numa mesma vocação evangelizadora de salvar almas para Cristo: «Se vos consola pensar que no Carmelo, uma Irmã reza sem cessar por vós, o meu reconhecimento não é menor que o vosso para com Nosso Senhor que me deu um irmãozinho que Ele destina a ser seu Sacerdote e seu Apóstolo… Só no Céu sabereis realmente como me sois querido. Sinto que as nossas almas foram feitas para se compreenderem; a vossa prosa que apelidais de “rude e breve” revela-me que Jesus pôs no vosso coração aspirações que não dá senão às almas chamadas à mais alta santidade. Já que Ele mesmo me escolheu para ser a vossa Irmã, espero que não olhará para a minha fraqueza, ou melhor, que se servirá desta mesma fraqueza para realizar a sua obra; porque o Deus Forte gosta de mostrar o seu poder servindo-Se do nada. – Unidas n’Ele, as nossas almas poderão salvar muitas outras porque este doce Jesus disse: “Se dois de entre vós se reunirem sobre a terra a pedir qualquer coisa a meu Pai que está nos Céus, Ele lha concederá”. Ah! O que Lhe pedimos, é trabalhar para sua glória, é amá-l’O e fazê-l’O amar… Como não seriam abençoadas a nossa união e as nossas orações?»
Este desejo e ardor missionário ardia no coração de Teresa como um lume incandescente que arrebatava todo o seu ser: «Quereria salvar almas e por elas esquecer-me de mim mesma; quereria salvá-las mesmo depois da minha morte.»
Tudo o que se pode fazer é pouco para quem deveras ama a Deus e O deseja servir de coração sincero, para que a Sua obra de salvação se concretize no mundo: «Enquanto esperamos esta ditosa eternidade, que dentro em pouco se abrirá para nós, visto que a vida não é mais que um dia, trabalhemos juntos na salvação das almas.»
Ser carmelita descalça, freira de clausura, não impediu Teresa de ser verdadeira missionária, como o disse ao Pe. Rolland: «não podendo ser missionária pela ação, quis sê-lo pelo amor e pela penitência como Santa Teresa minha seráfica Madre…»
Teresa revelou ao Pe. Bellière que a sua colaboração missionária não terminaria com a morte, mas continuaria na eternidade: «Não conheço o futuro, mas se Jesus realizar os meus pressentimentos, prometo-vos continuar a ser sempre a vossa Irmãzinha lá no Céu. A nossa união, longe de ser quebrada, tornar-se-á mais íntima, já não haverá então clausura, nem grades e a minha alma poderá voar convosco nas missões distantes. Os nossos papéis continuarão a ser os mesmos, para vós as armas apostólicas, para mim a oração e o amor…». Numa outra carta, três meses antes da sua morte, revela os mesmos sentimentos: «Queria dizer-vos, meu querido Irmãozinho, mil coisas que compreendo agora, estando às portas da eternidade, mas eu não morro, entro na vida e tudo o que não posso dizer-vos neste mundo vo-lo farei compreender do alto dos Céus…»
Por estes breves escritos de Teresa, não é de estranhar que tenha sido declarada Padroeira das Missões, já que na sua vida e desde o Céu, ela exerceu e continua a exercer este ministério apostólico. Santa Teresa do Menino Jesus é e permanecerá Missionária até ao fim dos tempos: «Sinto que vou entrar no repouso… Mas sinto sobretudo que a minha missão vai começar, a missão de fazer amar a Deus como eu O amo, de dar às almas o meu pequeno caminho. Se Deus realizar os meus desejos, o meu Céu passar-se-á sobre a terra até ao fim do mundo. Sim, quero passar o meu Céu a fazer o bem sobre a terra.»