O Concílio Vaticano II no Decreto “Ad Gentes” – “A atividade Missionária da Igreja” – diz que: «a Igreja, enviada por Deus a todas as gentes para ser “sacramento universal de salvação”, por íntima exigência da própria catolicidade, obedecendo a um mandato do seu fundador, procura incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens. Já os próprios Apóstolos em que a Igreja se alicerça, seguindo o exemplo de Cristo, “pregaram a palavra da verdade e geraram as igrejas”. Aos seus sucessores compete perpetuar esta obra, para que “a palavra de Deus se propague rapidamente e seja glorificada” (2Ts. 3,1), e o reino de Deus seja pregado e estabelecido em toda a terra.»

Assim, é vocação de cada baptizado exercer este mandato missionário que deriva do próprio Cristo: «Como membros de Cristo vivo e a Ele incorporados e configurados não só pelo Baptismo, mas também pela Confirmação e pela Eucaristia, todos os fiéis estão obrigados, por dever, a colaborar no crescimento e na expansão do Seu corpo para o levar a atingir, quanto antes, a sua plenitude.»

Teresa do Menino Jesus, iluminada pelo Evangelho de Jesus Cristo, cuja leitura assídua alimentava a sua oração e a sua vida espiritual, revelando aquela sabedoria divina que o Senhor disse manifestar apenas «aos pequeninos», viveu plenamente este espírito missionário .

O entusiasmo missionário de Teresinha tem imensas conotações de originalidade. Ela acreditava que a entrega da sua vida à causa missionária era obra de Deus. Na carta de 13 de Julho de 1897 ao missionário Maurício Bellière, seu irmão espiritual, escreveu: «Deus me tratou sempre como uma criança mimada, é verdade que a sua cruz me acompanhou desde o berço, mas Jesus fez-me amar com paixão esta cruz. Sempre me fez desejar o que queria dar-me.»

A sua preocupação e ardor apostólico dirigia-se a todos aqueles que viviam afastados de Deus. A sua própria provação de fé, nos últimos meses de vida, aclarou-a quanto ao problema da descrença e do ateísmo que despoletou significativamente no séc. XIX. Como ela mesma disse, «sentou-se à mesa dos pecadores» e a sua oração era dirigida, também, por estes irmãos privados da alegria do amor de Deus: «O Rei da pátria do sol brilhante veio viver 33 anos no país das trevas. Infelizmente! as trevas não compreenderam que esse Divino Rei era a Luz do mundo… Mas, Senhor, a vossa filha compreendeu a vossa divina Luz. Pede-Vos perdão para os seus irmãos e aceita comer por quanto tempo quiserdes o pão da dor, e de maneira nenhuma se quer levantar desta mesa cheia de amargura, à qual comem os pobres pecadores, antes do dia que vós destinastes… Acaso não poderá dizer-vos em nome dela e em nome dos seus irmãos: Tende piedade de nós, Senhor, porque somos pobres pecadores!… Oh! Senhor, despedi-nos justificados! Que todos aqueles que não foram iluminados pelo resplandecente facho da fé, o vejam finalmente brilhar.» Teresa transcende a clausura e intercede pelos incrédulos.

Numa carta à sua irmã Celina, Teresa faz a ligação perfeita entre a vida contemplativa e a vida apostólica. Ela própria, como carmelita, foi missionária sem sair do mosteiro. Os muros e as grades da clausura não lhe podiam fechar os horizontes e em nada cortavam os seus ideais missionários: «Uma vez Jesus dizia aos discípulos mostrando-lhes os campos de trigo maduro: “Levantai os olhos e vede como os campos já estão bem loiros para serem ceifados” e um pouco mais tarde: “Na verdade a messe é grande, mas os operários são poucos; rogai, pois, ao Senhor da messe que mande operários.” Que mistério!… Não é Jesus omnipotente? Não pertencem as criaturas a quem as fez? Então porque diz Jesus: “Rogai ao Senhor da messe que envie operários”? Porquê?… Ah! é que Jesus tem por nós um amor tão incompreensível que quer que tenhamos parte com Ele na salvação das almas. Não quer fazer nada sem nós. O criador do universo espera a oração de uma alma pobrezinha para salvar as outras almas resgatadas como ela pelo preço de todo o seu sangue. A nossa vocação não é ir ceifar nos campos de trigo maduro. Jesus não nos diz: “Baixai os olhos, vede os campos e ide ceifar.” A nossa missão é ainda mais sublime. Eis as palavras de Jesus: “Levantai os olhos e vede.” Vede como no meu Céu há lugares vazios, cabe a vós enchê-los, vós sois os meus Moisés a orar no cimo da montanha, pedi-Me operários e enviá-los-ei, só espero uma prece, um suspiro do vosso coração!…»

O pensamento missionário de Santa Teresa do Menino Jesus é sumamente atraente, evocador e concreto: salvar almas, pela oração e sacrifício, assumindo a maternidade espiritual. O seu exemplo é perfeitamente aplicável a cada pessoa, qualquer que seja a sua condição, estado de vida ou vocação.

Desde o Céu, ela continua a sua missão póstuma como Patrona das Missões, difundindo o caminho da infância espiritual a esta humanidade egocêntrica e autossuficiente que parece prescindir de Deus, afastando-se da Verdade. Contudo, a salvação está em seguir o Evangelho à risca, tal como ela o fez. Quem segue o seu exemplo não errará no caminho. E o caminho que ela seguiu, ela mesma o revelou: «o meu caminho é todo de confiança e de amor».

Como outrora com os seus dois irmãos missionários, ela continua hoje a ser, para nós, uma irmã mais velha, uma mestra espiritual, uma pedagoga do Evangelho, mãe e intercessora.

António José Machado