Há um texto belíssimo de Santa Teresa do Menino Jesus, de uma sua carta à sua irmã mais velha e madrinha, a Irmã Maria do Sagrado Coração, que forma parte do chamado Manuscrito B, da História de uma alma. Nele, Teresa manifesta o seu intenso ardor apostólico que a levava a desejar ter todas as vocações, para melhor testemunhar e transmitir o Evangelho e corresponder, com amor, ao Amor que Deus é. O texto é tão magnífico que dispensa qualquer comentário, salvo o risco de profanar tão belo testemunho:

 «Ser tua esposa, ó Jesus!, ser carmelita, ser, pela minha união contigo, a mãe das almas. Isso deveria bastar-me…; Sem dúvida, estes três privilégios são realmente a minha vocação: Carmelita, Esposa e Mãe. No entanto, sinto em mim outras vocações, sinto a vocação de Guerreiro, de Sacerdote, de Apóstolo, de Doutor, de Mártir; enfim, sinto a necessidade, o desejo de fazer por Ti, Jesus, todas as obras mais heróicas… Sinto na minha alma a coragem de um cruzado, de um zuavo pontifício, quereria morrer num campo de batalha pela defesa da Igreja… Sinto em mim a vocação de Sacerdote. Com que amor, ó Jesus, Te seguraria nas minhas mãos quando, à minha voz, descesses do Céu…. Com que amor Te daria às almas!…

Ó Jesus! meu Amor, minha vida… Como conciliar estes contrastes? Como realizar os desejos da minha pobre almita?…

Ah! apesar da minha pequenez, quereria esclarecer as almas como os Profetas, os Doutores. Tenho a vocação de ser Apóstolo… Quereria percorrer a terra, pregar o teu nome, implantar no solo infiel a tua cruz gloriosa, mas, ó meu Bem-amado!, uma missão só não me bastaria. Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo, e até nas ilhas mais longínquas… Quereria ser Missionário, não apenas durante alguns anos, mas quereria tê-lo sido desde a criação do mundo, até à consumação dos séculos… Mas quereria, sobretudo, ó meu Bem-amado Salvador, quereria derramar o meu sangue por Ti, até à última gota…

Como estes desejos constituíam para mim um verdadeiro martírio durante a oração, abri as epístolas de S. Paulo, a fim de procurar alguma resposta. Os meus olhos depararam com os capítulos XII e XIII da Primeira Epístola aos Coríntios. Li no primeiro que nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores, etc…; que a Igreja é composta por diferentes membros, e que o olho não poderia ao mesmo tempo ser a mão…

A resposta era clara, mas não satisfazia os meus desejos, não me dava a paz… Como a Madalena, inclinando-se sem cessar junto do túmulo vazio, acabou por encontrar o que procurava, assim eu, abaixando-me até às profundezas do meu nada, elevei-me tão alto que pude atingir o meu fim… Sem desanimar, continuei a leitura, e consolou-me esta frase: “Procurai com ardor os dons mais perfeitos, mas vou mostrar-vos ainda um caminho mais excelente”. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos nada são sem o Amor…, que a Caridade é o caminho excelente que conduz seguramente a Deus. Finalmente encontrara o repouso… Considerando o corpo místico da Igreja, não me tinha reconhecido em nenhum dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, queria reconhecer-me em todos… A caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um corpo composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue… Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e todos os lugares… numa palavra, que é Eterno!… Então, num transporte de alegria delirante, exclamei: “Ó Jesus, meu Amor! encontrei finalmente a minha vocação: a minha vocação é o Amor!…”

Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes… No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor… Assim serei tudo…, assim o meu sonho será realizado!!!…

Ó Farol luminoso do Amor, eu sei como hei-de alcançar-Te; encontrei o segredo para me apropriar da tua chama. Não passo de uma criança impotente e fraca. Contudo, é a minha própria fraqueza que me dá a audácia para me oferecer como vítima ao teu Amor, ó Jesus! … Para que o Amor fique plenamente satisfeito, é preciso que Ele se abaixe até ao nada, e transforme esse nada em fogo… Ó Jesus! bem sei, o amor só com amor se paga. Por isso procurei e encontrei a maneira de aliviar o meu coração dando-Te Amor por Amor.»

Santa Teresinha Menino Jesus:

 profeta, doutora e missionária do Amor

Há um texto belíssimo de Santa Teresa do Menino Jesus, de uma sua carta à sua irmã mais velha e madrinha, a Irmã Maria do Sagrado Coração, que forma parte do chamado Manuscrito B, da História de uma alma. Nele, Teresa manifesta o seu intenso ardor apostólico que a levava a desejar ter todas as vocações, para melhor testemunhar e transmitir o Evangelho e corresponder, com amor, ao Amor que Deus é. O texto é tão magnífico que dispensa qualquer comentário, salvo o risco de profanar tão belo testemunho:

 «Ser tua esposa, ó Jesus!, ser carmelita, ser, pela minha união contigo, a mãe das almas. Isso deveria bastar-me…; Sem dúvida, estes três privilégios são realmente a minha vocação: Carmelita, Esposa e Mãe. No entanto, sinto em mim outras vocações, sinto a vocação de Guerreiro, de Sacerdote, de Apóstolo, de Doutor, de Mártir; enfim, sinto a necessidade, o desejo de fazer por Ti, Jesus, todas as obras mais heróicas… Sinto na minha alma a coragem de um cruzado, de um zuavo pontifício, quereria morrer num campo de batalha pela defesa da Igreja… Sinto em mim a vocação de Sacerdote. Com que amor, ó Jesus, Te seguraria nas minhas mãos quando, à minha voz, descesses do Céu…. Com que amor Te daria às almas!…

Ó Jesus! meu Amor, minha vida… Como conciliar estes contrastes? Como realizar os desejos da minha pobre almita?…

Ah! apesar da minha pequenez, quereria esclarecer as almas como os Profetas, os Doutores. Tenho a vocação de ser Apóstolo… Quereria percorrer a terra, pregar o teu nome, implantar no solo infiel a tua cruz gloriosa, mas, ó meu Bem-amado!, uma missão só não me bastaria. Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo, e até nas ilhas mais longínquas… Quereria ser Missionário, não apenas durante alguns anos, mas quereria tê-lo sido desde a criação do mundo, até à consumação dos séculos… Mas quereria, sobretudo, ó meu Bem-amado Salvador, quereria derramar o meu sangue por Ti, até à última gota…

Como estes desejos constituíam para mim um verdadeiro martírio durante a oração, abri as epístolas de S. Paulo, a fim de procurar alguma resposta. Os meus olhos depararam com os capítulos XII e XIII da Primeira Epístola aos Coríntios. Li no primeiro que nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores, etc…; que a Igreja é composta por diferentes membros, e que o olho não poderia ao mesmo tempo ser a mão…

A resposta era clara, mas não satisfazia os meus desejos, não me dava a paz… Como a Madalena, inclinando-se sem cessar junto do túmulo vazio, acabou por encontrar o que procurava, assim eu, abaixando-me até às profundezas do meu nada, elevei-me tão alto que pude atingir o meu fim… Sem desanimar, continuei a leitura, e consolou-me esta frase: “Procurai com ardor os dons mais perfeitos, mas vou mostrar-vos ainda um caminho mais excelente”. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos nada são sem o Amor…, que a Caridade é o caminho excelente que conduz seguramente a Deus. Finalmente encontrara o repouso… Considerando o corpo místico da Igreja, não me tinha reconhecido em nenhum dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, queria reconhecer-me em todos… A caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um corpo composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue… Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e todos os lugares… numa palavra, que é Eterno!… Então, num transporte de alegria delirante, exclamei: “Ó Jesus, meu Amor! encontrei finalmente a minha vocação: a minha vocação é o Amor!…”

Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes… No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor… Assim serei tudo…, assim o meu sonho será realizado!!!…

Ó Farol luminoso do Amor, eu sei como hei-de alcançar-Te; encontrei o segredo para me apropriar da tua chama. Não passo de uma criança impotente e fraca. Contudo, é a minha própria fraqueza que me dá a audácia para me oferecer como vítima ao teu Amor, ó Jesus! … Para que o Amor fique plenamente satisfeito, é preciso que Ele se abaixe até ao nada, e transforme esse nada em fogo… Ó Jesus! bem sei, o amor só com amor se paga. Por isso procurei e encontrei a maneira de aliviar o meu coração dando-Te Amor por Amor.»

António José, ocds