A oração é importantíssima na nossa vida cristã. A Sagrada Escritura está cheia de orações e Jesus rezou e ensinou a rezar. Mas é curioso como em todas as idades se sentem dificuldades para orar. Falta de tempo, falta de disponibilidade interior. Não saber… São razões que, frequentemente, justificam o silêncio diante de Deus.

A oração é lugar e tempo de encontro com o Senhor. Para todos os tempos e em todas as idades. Porque a oração é encontro com o Deus vivo que, amorosamente, se aproxima de nós, transformando o nosso coração à Sua imagem. Quando na infância se aprende a rezar, usam-se frases e conceitos simples: chama-se a Deus Pai, a Jesus amigo, a Maria “Mãe do Céu”. Na simplicidade, descobrem-se maneiras lindas de agradecer a Deus aquilo que acontece e de pedir pelas coisas do dia-a-dia (“para que tudo corra bem e sejamos cada vez mais amigos”). Agradecimento e preces são as formas que se encontram para rezar. Pais, avós, catequistas preocupam-se com ensinar o “Pai nosso”, a “Ave-Maria”. “Nem sabe o Pai nosso!” – ouvimos lamentar com frequência. E “nem se sabe benzer!”. Até pode ser. Mas se se chega a descobrir na vida maneiras simples de “falar com Deus, com Jesus e com Maria”, percebe-se que esse “falar” é um “estar com” que vai crescendo com cada crente e com novos sentidos. Quando se cresce, amadurece-se as formas de comunicar e a comunicação ganha complexidade. Há sempre o perigo de “infantilizar” as formas de oração, quando novas vivências (fruto da adolescência ou da juventude) irrompem no quotidiano. O que muda é, sobretudo, a linguagem e a forma. Porque mudam as perguntas, as dificuldades, os confrontos.

As rotinas, os lugares comuns, o formal… perdem força, também, no encontro com Deus. É necessária mais intimidade e menos palavras. Mais silêncios e novas seguranças. Mas é sempre necessário dizermos a Deus o que passa por nós e pela vida, o que nos entusiasma e desconforta, sem perder o ritmo, nem a alegria do encontro. Porque todo o tempo e todos os espaços se tornam tempo e espaço para orar: a cidade, a montanha, o tráfico, as tensões, o trabalho, a família, a vida.

Com a nossa fé, podemos falar com Deus na simplicidade do encontro com os nossos colegas de trabalho (“onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome”), na vida quotidiana. Tudo depende do nosso olhar crente e de como a fé invade todos os minutos e momentos da nossa vida, tornando-se oração e contemplação de Deus a cada instante. Mesmo quando já aparecem os cabelos brancos!… Aí é natural que a rotina seja essencial. Que as palavras sejam as de “outros tempos”, que a oração seja esperança de encontro fecundo com o Deus que nos amou em toda a nossa vida e nos oferece um tempo novo de contemplação e de louvor: pela vida, por quem amamos, por quem nos ama, por tudo o que de bom fomos fazendo, pela maravilha da criação que surpreende a cada instante, pela história passada que se torna futuro de encontro, por Deus que nos amou primeiro, e, amando sempre, quer que a eternidade da vida se faça Seu Reino, aqui e agora, nos sentimentos, histórias e memórias de vida de um tempo que não tem fim.

Afinal… o tempo não é o que mais nos falta. Tempo para rezar é todo. Porque a vida, a nossa vida, é tempo que Deus nos dá para nos encontrarmos com Ele. Basta aprendermos a fazer dos segundos e minutos da nossa vida, segundos e minutos de Deus. Mais uma vez se confirma: para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus – tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para chorar e tempo para rir; tempo para dar abraços e tempo para apartar-se. Tempo para procurar e tempo para perder; tempo para calar e tempo para falar; tempo para amar e tempo para odiar (Ecl 3). Porque todo o tempo é tempo para Deus e tempo para rezar.

Termino, deixando-te algumas referências bíblicas para a tua oração em tempo de férias e parte de uma oração do Papa João XXIII que me motiva e fascina: Salmos 8, 23 (22), 121 (120), 131 (130); Eclesiástico 6,14-17; Evangelista Mateus 14,22-33; Evangelista Marcos 9,2-10; Evangelista Lucas 9,10-17; Evangelista João 1,35-50.

Do Papa João XXIII: “Hoje, apenas hoje, procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, sem querer resolver de uma só vez todos os problemas da minha vida. Hoje, apenas hoje, terei o máximo cuidado com a minha convivência: afável nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar ou corrigir ninguém à força, senão a mim mesmo. Hoje, apenas hoje, serei feliz na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo, mas também já neste. Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias sem pretender que sejam todas as circunstâncias a adaptarem-se aos meus desejos. Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos a uma boa leitura. Assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, assim a boa leitura é necessária à vida do espírito. Ámen!”.

 

P. Vasco Nuno, ocd