Ao folhear o Livro dos Peregrinos, que está junto do Menino Jesus de Praga, vi as muitas acções de graças “por tudo o que me tendes concedido durante este ano”, as súplicas por um Ano novo com paz, alegria e saúde. Nas acções de graças e súplicas entravam os nomes concretos da família e até o pedido de “concede-nos a graça da verdadeira santidade na família”. No entanto, o que me tocou mais a alma foram as orações de quem pedia a cura da doença: “Meu Bom Menino, dai o dom da sabedoria aos médicos para que possam curar aquele meu filho, que também é vosso”; “Menino Jesus de Praga, ajuda-me, pois tenho andado muito doente e ninguém me dá solução. Muito obrigado se me ouvires na minha angústia de tristeza e dor”; “Meu querido Menino Jesus, cura o meu paizinho”.

Estas súplicas ditas assim repetem o gemido e as súplicas dos salmos: “Tem compaixão de mim, Senhor, porque me sinto sem forças; devolve-me a saúde, porque me sinto abalado” (Salmo 6); “Todo o dia ando triste, cabisbaixo e deprimido. Estou a arder de febre; tenho todo o corpo doente… Meu Deus, não te afastes de mim!” (Salmo 37); “Os dias da minha vida são como a sombra que vai alastrando e eu vou secando como a erva… Meu Deus, não me leves a meio da vida” (Salmo 101).

A doença, seja ela física, moral, psíquica ou espiritual, é sempre um tempo difícil e de provação. É tempo de revolta, purificação, mas também de um novo conhecimento de nós mesmos, dos outros e da própria vida. Quando chega a notícia da doença (grave) ficamos como que perdidos: «Não, não pode ser verdade!». Podemos até negar a realidade por algum tempo, mas ela entranha-se até que nos interrogamos. «Que fazer agora?». Os doentes são diferentes, e diferentes são as doenças e os modos de reagir. Há quem parta da fé e da confiança para o desespero e a revolta, e quem da revolta tenha chegado à serenidade e à gratidão. Hoje queria lembrar a palavra de dois doentes oncológicos: a Sandra Matinhos e o padre Michel Paul Gallagher, jesuíta.

A Sandra Matinhos tinha 35 anos quando lhe foi diagnosticado um cancro de mama. “A revolta foi outro sentimento que me assolou o coração… Depois vieram as cirurgias, a quimioterapia. Finalmente veio a aceitação quando senti a necessidade de me agarrar à fé e voltar-me para Deus… Ao longo deste percurso aprendi a ver, pensar, ouvir e sentir tudo de forma diferente”. O Padre Michel Gallagher, professor na Universidade Gregoriana de Roma, escreve: “Desde a descoberta do meu cancro, há momentos em que tudo parece absolutamente irreal… Não posso negar que a fé fez toda a diferença para mim nestes meses dominados pelo cancro, embora também ela tenha de aprender a sobreviver aos momentos de desolação… Neste momento, sinto-me abençoado por uma grande serenidade em relação aos perigos futuros”.

O Dia Mundial do Doente – 11 de Fevereiro –, instituído em 1992 pelo Papa João Paulo II, é “um momento forte de oração, de partilha, de oferta do sofrimento pelo bem da Igreja e de apelo dirigido a todos para reconhecerem na face do irmão enfermo a Santa Face de Cristo”.

Divino Menino Jesus, olhai para os vossos amigos que estão doentes!

 

Agostinho  Leal, ocd