Julho e Agosto são meses de ordenações sacerdotais nas dioceses e “missas novas” nas comunidades cristãs. Assim me recordo há 40 anos. A 20 de Agosto de 1978 cantei a minha missa nova em Avessadas – a minha aldeia – no Santuário do Menino Jesus de Praga. Este dia é marcante para o sacerdote, por isso ainda me lembro do cântico de entrada: Sobe à montanha e verás o Senhor. Seria este cântico uma alusão ao gosto que ainda hoje tenho de subir às montanhas?

Por estes dias, no regresso de Quintandona, baixava por Eja, nas margens de Entre-os Rios, e avistei pela primeira vez no cimo de um esporão uma capelinha – Senhora da Cividade – junto às fortificações celtas e romanas. Para ela me voltei, subi a montanha e deparei-me com uma paisagem antiga e conhecida, mas agora nova e deslumbrante. Na verdade, as coisas vistas do alto são mais belas!

À sombra da capelinha, bem lá no alto, enquanto a minha alma se regalava com o que via e ouvia através da “música calada e da solidão sonora”, reavivei duas imagens que os olhos crentes aplicam à natureza: a escada e o altifalante. A natureza tem a forma de uma escadaria que nos ajuda a subir até Deus. Cada beleza é um degrau que nos aproxima do Criador. Assim escrevia São João Crisóstomo, doutor da Igreja: “Deus criou o mundo para que todos, doutos e ignorantes, sábios e bárbaros, através da simples vista das belezas criadas, subam até Deus”. A natureza é como que o altifalante de Deus. O salmo 18 canta: “Os céus proclamam a glória do Senhor, o firmamento anuncia a obra das suas mãos”. Na verdade, se soubermos fazer silêncio interior, a natureza é um verdadeiro livro de oração pelo qual podemos rezar a ladainha da natureza. Da Senhora da Cividade, contemplando o Tâmega e o Douro, a igrejinha do Torrão e os campos férteis, parecia-me ouvir Santa Teresinha do Menino Jesus a declamar a sua poesia nº 18: “Gostava da igrejinha distante, de ouvir o sino hesitante, para escutar os suspiros da brisa…; gostava do voo das andorinhas, do canto triste das rolas. Escutava o ruído das asas dos insectos, apreciando do seu zumbido o canto; gostava do orvalho matinal e da cigarra graciosa…; gostávamos do doce ruído das ondas…, gostávamos da voz, no fundo do bosque, do rouxinol… Em Ti (Jesus), tenho os bosques, os campos; tenho os juncos, os prados, a montanha, a chuva e os flocos de neve dos Céus…”. Santa Teresa de Ávila, ao falar da maneira como o Senhor começou a despertar a sua alma, garante-nos: “A mim também me ajudava ver campos, água, flores; todas estas coisas faziam-me lembrar o Criador, isto é, despertavam-me, recolhiam-me e serviam-me de livro” (V 9, 5). Depois de entrar para o Carmelo, Santa Isabel da Trindade escreveu uma carta (cf. Cta 87) à sua mãe e irmã onde lhes dizia: “Mas saibam minhas queridas, que os horizontes do Carmelo são ainda mais belos, é o Infinito!… Em Deus tenho todos os vales, todos os lagos, todas as vistas panorâmicas. Oh! dai-Lhe graças, todos os dias, por mim”. Agora, quando passo em Entre-os-Rios e olho para a capelinha da Senhora da Cividade, parece que vejo na natureza um ascensor para o Criador! Boas férias panorâmicas.