Citando o filósofo espanhol Xavier Zubiri, o Papa Francisco afirma, na sua exortação apostólica Gaudete et Exsultate, que «não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão» (GE, 27). O mesmo já ele tinha dito na Evangelii Gaudium, 273. Sim, a missão deve ser encarada como desafio e aventura, que é a própria vida; esperança e dor; saída destemida de nós mesmos, em busca de sonhos. As pantufas abandonadas, as sandálias preparadas para a caminhada, sem nos deixarmos tolher por medos de desertos tórridos ou mares encapelados, pois «a ousadia e a coragem apostólica são constitutivas da missão» (GE, 131), diz, ainda, o Papa Francisco na mesma exortação apostólica. Assim como somos convidados a sermos santos no quotidiano da nossa trivialidade, também somos exortados a fazermos com que a nossa existência seja uma verdadeira missão de encontro, de descoberta, de abertura à surpresa. Sim, porque a maravilha do desafio da missão está na sua imprevisibilidade e na «rebeldia» do Espírito, que não se deixa prender nem limitar, porque «sopra onde quer» (Jo 3,8).
Em abril do ano passado, estive em Hong Kong, onde se realizou um encontro dos Superiores Gerais das Sociedades de Vida Apostólica. Três jovens foram os protagonistas convidados a apresentarem as suas preocupações, os seus anseios e as suas perplexidades sobre as relações com a Igreja institucionalizada. Os mesmos jovens realçavam o seu desejo de transparência, de confiança e de espaço. E desejavam orientação e sabedoria. O Sínodo dos Bispos «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», que iniciou em outubro de 2018 e se prolongará até outubro de 2019, deve dilatar-nos o olhar e a capacidade de escuta, de acompanhamento e de humildade. Os jovens estão no centro e devem fazer-nos estremecer com os seus anseios de espaço e de compreensão; eles exigem que exijamos! Não depreciemos a sua sede de divino e a sua fome de mais! O Espírito está com eles, na sua rebeldia e nos seus gritos de alerta. Nunca me canso de repetir aquela frase de Charles de Foucault: «A ausência de risco é sinal seguro de mediocridade».
«Somos frágeis, mas portadores de um tesouro que nos faz grandes e pode tornar melhores e mais felizes aqueles que o recebem» (GE 131). Palavras do Papa Francisco que devem constituir um estímulo a que não deixemos esmorecer a paixão. A falta de paixão conduz-nos, invariavelmente, por antros de calculismo ou indiferença. Construímos barreiras onde deveríamos ser pontes.
P. Adelino Ascenso, SMBN
Somos missão
