O Divino Reizinho alcançou Lisboa em 1749. Não será desperdício recordar que naquele jubiloso dia 17 de Julho o céu e as ruas da Capital se engalanaram para O receber. E porque de chegada de Rei se tratava também a Casa Real saiu a acolhê-lo com humilde devoção, mais que com pompas de estado. E não estranhará que em poucos meses as igrejas de Lisboa lhe hajam dedicado altares onde passou a ser venerado. E se assim na Capital, igual um pouco por todo o reino.

A fama dos seus milagres e graças O precediam de longe. Em boa verdade, todos os Carmos e Carmelos do Reino, mas muito mais que esses, lhe dedicaram altares, porque havia muito as vidas e os corações já se Lhe tinham consagrado. Portugal é desde bem cedo terra de Santa Maria; mas se Aquela que recolhe nossos uis e ais reserva para Si esta terra bendita é só para a oferecer a Seu Filho, o Divino Menino Jesus. Jesus é rei, o nosso Rei!

Portugal é do Menino Jesus. É antiga a ligação da nação ao Divino Infante: quase não existe invocação da Mãe de Deus cuja imagem não O resguarde nos braços. Ele é a nossa saúde e a nossa luz, a cura das dores e aflições, a nossa alegria e a nossa paz! Na voz do povo, se conta, por exemplo, que certo conde luso tinha um coração tão grande como seu castelo, e não havia pobre que ali não achasse o nobre calor do acolhimento. Ora, certo dia, por tão calorosa casa passou Santo António, e como prova daquela ser uma casa afável como a de Nazaré, naquela mesma noite o bem-aventurado Santo ali recebeu das mãos de Nossa Senhora o Menino Jesus, que prontamente embalou no seu colo de anjo!

Muitas mais manifestações existem do terno amor de Portugal ao Menino Jesus: a cidade de Évora dedicou-lhe uma rua; Lisboa, a Igreja do Menino Deus (1711); em Miranda do Douro, o Salvador revelou-se na figura corajosa do Menino Jesus da Cartolinha (séc. XVIII); e a Paróquia de Castelo do Neiva (Viana do Castelo), como tantas outras, dedica-Lhe uma festa, razão pela qual, dormindo, nos braços do Reverendo Pároco, sai o Deus Menino em procissão!; a cidade do Porto do séc XX testemunhou o apostolado da devoção ao Infante de Praga praticado pela Venerável Rita de Jesus, religiosa Franciscana Missionária de Nossa Senhora.

E poderíamos continuar…

Sabemos, contudo, que um Decreto de D. Pedro IV, de 28 de maio de 1834, extinguiu no Reino todos os conventos e mosteiros, colégios e hospícios das Ordens Regulares. No caso dos Carmelitas, tal como pelo geral, a perda foi grande, e também na devoção. Quase um século depois (28 de março de 1928), porém, deu-se início à restauração da vida Carmelitana em Portugal. É deste novo movimento da história que agora vos hei-de falar, porque aqui se dá a renovação da devoção ao Divino Menino Jesus de Praga nos Carmos e Carmelos de Portugal, e que teve como pólos de incremento o Carmo de Aveiro, o do Porto e o de Paço de Arcos, e por fim o de Avessadas, onde se Lhe dedicou um singelo Santuário.

Merece-nos agora particular atenção o que diz respeito à restauração do de Braga, que muito se deve à intervenção do Divino Reizinho. Aquele convento passara para o poder secular no dia 19 de Outubro de 1835; contudo, a igreja fora confiada à Irmandade do Carmo. Conta o Cronista que uma vez restaurada a Ordem em Portugal se pensou em recuperar alguns dos antigos conventos – entre eles, o de Braga. O Rev.do Pe Isidoro Maguna entrevistara-se bastas vezes com o saudoso Arcebispo D. António Bento Martins Júnior, para lhe pedir a entrega da Igreja do Carmo. Mas a petição não era bem recebida; mas a insistência foi tanta, que Sua Reverendíssima o enviou a falar com os Padres Franciscanos, que eram ali Capelães. Que fosse, pois, falar com eles. E foi, e encontrou neles bom acolhimento. O Carmo seria dos Carmelitas; ali entrariam de novo as Capas Brancas! Quando uma nova entrevista do Pe Isidoro com o Senhor Arcebispo se proporcionou, já o Prelado não se mostrava favorável à entrada dos Descalços na sua igreja de Braga! Que fazer? A quem recorrer? A quem interceder? Pois, nem mais nem menos que ao Imperador dos padres e dos frades, dos bispos e arcebispos: O Menino Jesus de Praga!

Entretanto, não cessaram nem as diligências nem as diplomacias auxiliadas por toda a prudência e sumamente confiadas na Providência Divina, pois o assunto fora colocado nas mãos pequeninas, mas poderosas, do Menino Jesus de Praga, que o haveria de resolver de uma maneira que só se podia considerar miraculosa: assim, no dia 16 de outubro de 1961, as gentes de Braga enviaram os senhores Joaquim Costa Duarte e Francisco da Cunha Ferreira ao Superior do Seminário Missionário Carmelitano, de Viana do castelo, e este reenviou-os ao Superior Maior, Pe Isidoro Maguna, que se encontrava no Porto. Seguiram-se várias conferências, ora com a Irmandade do Carmo, ora com os Padres Franciscanos, ora, sobretudo, com o Senhor Arcebispo. A cada nova reunião as coisas se resolviam, porque o melhor auxílio vinha do Céu. O Deus Menino tinha feito o seu trabalho em favor dos seus dilectos irmãos! O Prelado bracarense era, finalmente, favorável aos Carmelitas do Menino Jesus, pois o Divino Infante havia-lhe tocado o coração – e assim, com júbilo e em festa, com muitas capas brancas e muita esperança, se re-inaugurou a vida comunitário no dia 3 de Março de 1963! E conclui o Cronista: Louvado seja a Santa Infância de Nosso Senhor Jesus Cristo que tudo pode!

 

Frei João Costa, ocd