Há já bastante tempo, quando comecei a falar e meditar sobre alguns lugares de Fátima (o Poço de Lúcia, a Capelinha, a Capela do Santíssimo…), e que julgava que já todos conheciam, chegaram-me algumas ressonâncias positivas por termos tido esta lembrança de apresentá-la no Mensageiro do Menino. Entretanto, propuseram-me que dissesse também uma palavrinha sobre outros lugares tão significativos e entre eles, sugeriram-me, uma palavra sobre os Túmulos dos Pastorinhos.

Até há relativamente pouco tempo, quando entrávamos na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (obra do arquitecto holandês Gerard Van Kriechen, cuja primeira pedra foi benzida em 13 de Maio de 1928), bem ao cimo, junto do presbitério, encontrávamos apenas dois túmulos, o do Francisco e o da Jacinta. Agora são duas belas obras de arte, embora muito simples, como era próprio, mas muito significativo, dos dois meninos. Ali estavam como sentinelas, ou como guardiães de Nosso Senhor que está ali também, bem perto, no Sacrário, como Seus adoradores perpétuos. Na capela lateral esquerda repousam os restos mortais de Jacinta, e na capela lateral direita repousam os restos mortais de Francisco. Junto ao túmulo de Jacinta foi aberto um outro túmulo, em Fevereiro de 1995, destinado à irmã Lúcia, acordado entre o santuário de Fátima, o Carmelo de Coimbra e a própria Irmã Lúcia. A 13 de Maio de 2000, o Papa João Paulo II beatificou solenemente, em Fátima, os dois pastorinhos Francisco e Jacinta e benzeu as suas imagens, sobrepostas aos respectivos túmulos, que são da autoria, respectivamente, de José Rodrigues e de Clara Menéres. «Por desígnio divino, veio do Céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai, “uma Mulher revestida com o sol” (Ap 12,1). Fala-lhes com voz e coração de mãe: convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-Se Ela para os conduzir, seguros, até Deus» (Homilia do Papa João Paulo II na Beatificação do Francisco e Jacinta Marto).

Hoje, quem visita a Basílica, já encontra também o túmulo de Lúcia, bem ao lado da sua prima, a Jacinta… E lá estão os três que, depois de unidos na vida, continuam bem unidos após a morte e mais unidos ainda, certamente, no céu. Durante alguns anos percorreram, juntos, aqueles lugares, pastoreando as suas ovelhinhas, escutando as canções dos passarinhos, tocando e cantando as lindas histórias, canções próprias da época, cantos que aprendiam na Igreja ou na Catequese, colhendo florinhas, ou correndo atrás de qualquer borboleta.

À Jacinta e ao Francisco já os veneramos como santos do nosso calendário santoral (as duas primeiras crianças, não mártires, canonizadas, isto é, a ser elevadas à categoria de Santos pela Igreja): são os grandes intercessores; à Lúcia, continuamos a rezar diante do seu túmulo para que, quanto antes, e quando Deus quiser, a possamos venerar e honrar também no mesmo calendário litúrgico.

Quando vou a Fátima e tenho a oportunidade de ir até à Basílica, gosto de visitar os três túmulos porque me dizem sempre alguma coisa: o silêncio, a oração, a contemplação daquele mistério de presença…; a mensagem, a experiência, os ensinamentos, o testemunho…; a beleza, a simplicidade e humildade daquele lugar, toda a energia e odor que exalam, deixam-me como que extasiado, sem conseguir dizer palavra, simplesmente, escutando, contemplando, respondendo com o coração.

Depois, ao sair, vêm as perguntas de sempre: porquê a morte? Porquê morreram tão cedo (os dois mais jovens)? Porquê morrem os Santos, os que são bons? Como seria bom que eles pudessem continuar a testemunhar aquilo que viram e ouviram… não ajudaria muitos mais a acreditar? Não poderiam conduzir mais homens e mulheres à fé? Tantas perguntas que nos vêm ao pensamento: umas legítimas, outras, se calhar, não tanto, mas que, nem por isso, deixam de nos questionar.

Eles agora estão aí, e vão-nos dando algumas respostas: eram crianças na altura; as suas palavras pouco impacto poderiam causar pois ninguém ligava importância alguma àquelas crianças rudes, ignorantes; seria tudo um sonho inventado por elas ou por alguém que estava por detrás e queria servir-se delas? Mas aqui, diante dos seus túmulos, recordamos e admiramos os seus actos heróicos: seus sacrifícios (embora alguns bem pequeninos!?), suas orações, seus pedidos, seus compromissos, suas dores (na doença e até na perseguição e na ameaça, como em Agosto), sua morte.

Se calhar, cada um dos três teria alguma palavra particular a dirigir-nos: confiai, acreditai, sacrificai-vos, oferecei-vos, rezai, intercedei, vigiai, testemunhai…

Os pastorinhos estão agora na Basílica. Já os veneramos como santos, à Jacinta e ao Francisco, e desejamos que Lúcia seja proclamada bem-aventurada. Estão aí como sentinelas, como chamada de atenção, apelo e convite, desafio e provocação diante do nosso comodismo, facilitismo, egoísmo… Foram heróis, e dos grandes; e deixam bem alto o nome de Portugal, este cantinho privilegiado de Deus e de Nossa Senhora. Foram crianças, rudes e ignorantes, mas muito sábias e grandes na corrida que fizeram, na meta que alcançaram.

Diante desta maravilha dos Pastorinhos só nos resta dizer, rezar, cantar: «Cantemos, alegres, a uma só voz: Francisco e Jacinta, rogai por nós. Caminhantes neste mundo, ajudai-nos cada dia, a viver sempre seguros sob o manto de Maria. A Senhora do Rosário, pela vossa intercessão, abençoe o Santo Padre e nos leve à conversão» (hino dos Pastorinhos).

Alpoim Portugal, ocd